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Reaproximação entre Brasil e Alemanha é marcada por visita de Lula a Scholz em momento delicado para o governo.


Reaproximação sob Lula e Scholz

A Alemanha é o principal parceiro comercial do Brasil na Europa e o quarto parceiro comercial brasileiro no mundo, depois de China, Estados Unidos e Argentina. Há cerca de 1.400 empresas alemãs atuando no Brasil, como Volkswagen, Mercedes-Benz, Siemens e Basf.

De janeiro a outubro deste ano, o comércio bilateral foi de 16 bilhões de dólares, com uma balança favorável à Alemanha. No período, o Brasil exportou para o país europeu 4,8 bilhões de dólares (décimo maior destino de exportações) e importou 11,2 bilhões de dólares (terceira maior origem de importações), segundo dados do governo brasileiro.

Políticos dos dois países começaram a ensaiar uma reaproximação ainda antes do fim do governo Bolsonaro. Em novembro de 2021, quando Scholz ainda estava montando seu governo, ele se reuniu com Lula em Berlim, meses após o brasileiro conseguir a anulação de suas sentenças judiciais e se cacifar novamente para concorrer à Presidência. Historicamente, o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz e o PT de Lula mantêm laços que remontam aos anos 1980. Lula também cultivou relações com figuras históricas do SPD, como os ex-chanceleres Helmut Schmidt, Willy Brandt e Gerhard Schröder.

Em janeiro de 2023, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, viajou a Brasília para participar da cerimônia de posse de Lula. No final de janeiro, foi a vez de Scholz desembarcar no Brasil, na primeira visita de um chefe de governo alemão desde 2015. Em 2023, com Lula de volta ao poder, os dois países também reativaram vários mecanismos de cooperação, como o Fundo Amazônia.

Brasil e Alemanha compartilham interesses em comum, como a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia e a reforma de organismos internacionais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas mantêm divergências em temas como a guerra na Ucrânia e o atual conflito no Oriente Médio.

No caso do Acordo entre o Mercosul e a UE, a Alemanha é um dos países europeus que mais tem apoiado a conclusão definitiva do tratado, não apresentando objeções como a França , que tem um setor agrário mais temeroso de concorrência com produtores brasileiros.

Na atual coalizão de governo da Alemanha liderada pelo social-democrata Scholz, o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) é um dos principais entusiastas do acordo.

Mas, a volta de Lula ao poder também enfraqueceu potenciais resistências de outro membro da coalizão alemã, o Partido Verde. “O que mudou entre 2019, quando a discussão técnica foi finalizada, e agora é a chegada do presidente Lula”, disse o vice-chanceler federal alemão, o verde Robert Habeck, em março.

Nos bastidores, também pesa na decisão alemã de apoiar o acordo o temor de que um fracasso das negociações leve o Mercosul a se aproximar mais da China. Mais recentemente, membros do governo alemão pediram celeridade nas negociações após Javier Milei vencer a eleição presidencial da Argentina, temendo que sua chegada ao poder embaralhe as negociações.

No entanto, apesar do apoio alemão ao acordo, a visita de Lula a Berlim ocorre um dia após um novo revés nas negociações, após o presidente francês Emmanuel Macron afirmar categoricamente que é contra os termos do tratado, durante entrevista em Dubai, palco da COP28.

Visita em momento delicado para o governo Scholz

Em 2015, a primeira edição das consultas intergovernamentais de alto nível Alemanha-Brasil ocorreu em um cenário de crescente crise econômica e política no Brasil, que poucos meses depois acabaria por sepultar o governo Dilma. O novo encontro também ocorre em um momento delicado, mas desta vez do outro lado do Atlântico.

No momento, o governo liderado por Scholz tenta encontrar uma saída para uma crise que envolve o Orçamento federal da Alemanha, que corre o risco de acabar com os ambiciosos planos ambientais e de investimento em modernização da indústria e infraestrutura do país.

A crise teve início em 15 de novembro, quando o Tribunal Constitucional da Alemanha determinou que o Orçamento alemão para 2024 violava regras do “freio da dívida” alemão, instituído em 2009, que restringe o déficit orçamental da Alemanha a cerca de 0,35% do seu PIB, e que por anos foi uma vitrine da disciplina fiscal do país europeu, mas que agora vem sendo alvo de críticas crescentes por travar investimentos públicos.

Mais especificamente, o tribunal, após ser acionado pela oposição conservadora, barrou os planos do chanceler de direcionar 60 bilhões de euros de sobras de um fundo de emergência insituido durante a pandemia para um fundo climático e de transformação, que visava fomentar uma revolução verde na Alemanha e modernizar a indústria do país. Desde então, o governo tem tentado negociar soluções para readequar o Orçamento e deslocar fundos.

A decisão aumentou a pressão sobre o já turbulento governo do Scholz, que já tinha que lidar com os efeitos de uma recessão na Alemanha e levantou questionamentos sobre se o chanceler federal será capaz de manter unida a sua coalizão de social-democratas, liberais e verdes.

Enquanto o SPD de Scholz e os Verdes são a favor de um relaxamento das regras do freio, os liberais parecem determinados a manter o limite da dívida em vigor.

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