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Crônica: O Triste Destino das Palavras na Era das Redes Sociais e a Necessidade do Tombamento Lexical





Preservando a Língua Portuguesa: A importância de resgatar palavras em extinção

Homessa! (Sempre quis iniciar ou concluir assim, num raciocínio tão exclamativo quanto rococó, digno dos periódicos de muito antigamente. Pela oportunidade, obrigada.)

Aliás, quando a palavra de agradecimento foi aos poucos sendo substituída por “valeu”, ninguém chiou. Ato contínuo, a gratidão deixou de ser fonetizada, transformando-se num erguer de polegar. Um joinha displicente. Até que, sem qualquer alarde léxico —Aurélio e Houaiss cobertos por louros imortais, dormindo de conchinha com seus dicionários— tudo degringolou para “vlw”.

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Você, que percorre estas linhas com idade suficiente para conhecer expressões demodê: já testemunhou uma palavra estrebuchando até a morte? Em página impressa ou tela de celular? Claro que não. Abandonadas à própria sorte, elas são deixadas à míngua em vielas escuras da gramática. Preteridas por opções mais prafrentex e topzêra. Fenecendo na calada da noite sintática, chacinadas pelo desuso.

Quando não batem a caçoleta de vez, perdem o direito de existir em sua forma escorreita, sendo substituídas por gêmeas maquiavélicas. Ruth e Raquel da linguagem coloquial. Afinal, quem ainda encontra pizzas de “muçarela” no cardápio? Ou dá uma “bicota” na ponta de um nariz? Não há “resistro”.

Urge, portanto, criar um Iphan destinado ao tombamento de vocábulos supimpa em vias de extinção. Tal como “alvíssaras” —interjeição muito merecedora de substituir o “bom dia, grupo” do WhatsApp— e o ingênuo adjetivo “transado”, enquanto coisa “maneiríssima”.

Restituiríamos o trema fófis e “tranqüilo” de “pingüim” e “lingüiça”. Daríamos Ctrl + Z em acordos ortográficos que acabaram com o “cafèzinho” (servido assim grave) e a boa e velha “idéia” (com acento, tão mais brilhante).

Nada disso através de processos que tramitassem por escaninhos empoeirados. Seria no YouTube e no TikTok mesmo, com influencers fazendo publi de “carmim” para os lábios. Ou ensinando a coordenar numa mesma oração sapato com “capanga” (no sentido original, não no da série “Vale o Escrito”).

Saias voltariam a “farfalhar”, ainda que sem anáguas por baixo. Risos de zoeiragem seriam tão “escarninhos” como na obra de Machado. E Luccas Neto licenciaria o galicismo do “bilboquê”, reabastecendo “pharmacias” de arnica para dar conta de tantos olhos roxos.

Destarte e dessarte, nosso imenso patrimônio vocabular estaria a salvo. Protegeríamos “roubartilhar” do impune fim de “chocrível”. Todas as palavras poderiam, enfim, ter a palavra. Homessa!


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