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Mulheres e Revolução: a luta feminista após a Revolução Russa e seus impactos na situação das mulheres globais, dialogando com a atualidade.

As mulheres são força revolucionária, a reivindicação da Revolução Russa na promoção dos direitos das mulheres ainda ressoa nas reivindicações atuais. As guerras europeias impactam e abalam o mundo pós-União Soviética e a Guerra Fria. Consequências e destroços ainda se colidem gerando resultados devastadores, para compreendermos este complexo mosaico geopolítico, Wendy Goldman é uma das profícuas intelectuais que discute a respeito disso.Wendy Z. Goldman é Paul Mellon Distinguished Profess no Departamento de História da Carnegie Mellon University. É autora de vários livros sobre a União Soviética, incluindo dois traduzidos para o português, A Mulher, o Estado e a Revolução. (Boitempo e Iskra, 2014) e Terror e Democracia nos Tempos de Stalin. Dinâmica Social da Repressão (Editora Lavra Palavra, 2021). Em conversa com Opera Mundi, a autora analisa os conflitos contemporâneos mais importantes após a queda da União Soviética e os legados e as lições das mulheres revolucionárias.

[Entrevistadora:] As mulheres não foram apenas a “faísca” da Revolução Russa, mas a força motriz por trás dela. Ainda existe essa força para impulsionar a libertação das mulheres dos grilhões que o capitalismo colocou sobre nós? [Wendy Goldman:] A força motriz em 1917 foi a opressão que as mulheres sofriam como mulheres, trabalhadoras e camponesas. Essa opressão ainda existe em todo o mundo. Ela afeta mulheres de várias classes de maneiras diferentes, mas todas as mulheres estão sujeitas à opressão do Estado, por meio de leis que visam controlar o corpo e a capacidade reprodutiva feminina, e na subordinação das mulheres aos homens dentro de casa, na expressão cultural, na educação e no local de trabalho. Todas as mulheres, mesmo as dos países mais ricos, lutam para conseguir conciliar o trabalho assalariado com o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos. Em todos os lugares, as mulheres ainda estão sujeitas à violência masculina, ao estupro e às tentativas de controlar suas escolhas e sua sexualidade.  Enquanto as mulheres não tiverem direitos iguais e plenos – à educação, ao emprego, à segurança, à escolha de seus parceiros e ao controle de sua fertilidade – e enquanto as condições que permitiriam às mulheres exercerem esses direitos não existirem, o impulso para a mudança permanecerá. Muitas demandas foram conquistadas em países onde existem fortes movimentos feministas, e novas demandas surgiram com foco nos direitos LGBTQIA+, assédio sexual, representação cultural e outras questões. Ao mesmo tempo, alguns direitos que foram conquistados anteriormente foram perdidos e as mulheres foram forçadas a retroceder. Nos Estados Unidos, muitos estados instituíram restrições severas ou até mesmo proibições totais do direito ao aborto, que foi conquistado em 1973. Teremos que travar essas batalhas novamente. Onde quer que haja opressão, encontramos resistência. Às vezes, ela é invisível, às vezes a faísca parece muito fraca na escuridão, mas ainda arde.

A Revolução Russa apresentou uma visão muito radical da liberação das mulheres, baseada em quatro princípios. [Você pode criar um detalhe com relação a isso.]

A experiência soviética nos ensinou que, sem criar as condições materiais para a emancipação das mulheres, ou seja, pleno emprego, salários suficientes para sustentar uma família, uma gama completa de opções de controle de natalidade, bem como lavanderias, creches e instalações para idosos, as mudanças na lei, por si só, não libertarão as mulheres.

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