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Cobertura do conflito entre Israel e Hamas é criticada por falta de equilíbrio e contextualização histórica, dizem especialistas.

No último sábado (7), os conflitos entre Israel e Hamas ganharam destaque nos noticiários ao redor do mundo. O ataque do grupo islâmico Hamas contra comunidades israelenses próximas à Faixa de Gaza foi o ponto de partida para a retomada da cobertura mais extensa sobre o assunto. No entanto, alguns especialistas apontam que a mídia tradicional tem abordado o conflito de forma simplista e desequilibrada.

De acordo com o geógrafo e pesquisador de discursos midiáticos, Francisco Fernandes Ladeira, a cobertura apresenta uma falta de contextualização histórica, escolhas restritas de fontes e temas, além de atribuir adjetivos maniqueístas para caracterizar os dois lados do conflito. Segundo Ladeira, essa abordagem favorece uma visão pró-Israel, deixando em segundo plano os problemas enfrentados pelos palestinos.

O pesquisador também destaca que existem jogos de palavras e armadilhas semânticas que mexem com as emoções do público. Enquanto os ataques em Gaza são enfatizados como perdas materiais e ataques a instalações militares, os ataques em Israel são destacados como perdas humanas e dramas familiares, com foco na população civil.

O professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Bruno Huberman, argumenta que há uma indignação seletiva no debate público, negligenciando o sofrimento do povo palestino. Ele critica a normalização da barbárie em Gaza e a falta de sensibilização em relação aos palestinos. Huberman destaca a alienação que israelenses, brasileiros e ocidentais têm em relação ao que se passa com os palestinos.

Por outro lado, a pesquisadora Karina Stange Caladrin, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), discorda que haja uma abordagem pró-Israel nos noticiários. Ela argumenta que especialistas de diferentes visões têm sido convidados para comentar o conflito, tornando a cobertura mais completa e diversa.

Porém, informações sobre a situação precária da população palestina em Gaza têm chegado por meio de organizações como a Médico Sem Fronteiras (MSF). Segundo a MSF, a intensidade dos bombardeios tem piorado as condições de vida na região, com a destruição de instalações e equipamentos médicos, além de milhares de pessoas sem moradia e serviços básicos.

O cientista político e professor de Relações Internacionais Maurício Santoro destaca que a Faixa de Gaza é uma região com altas restrições e uma densidade populacional elevada. Ele argumenta que a situação socioeconômica da região acaba criando um ambiente propício para o surgimento de organizações extremistas e movimentos violentos.

A Faixa de Gaza possui aproximadamente 2,3 milhões de pessoas, em um território pequeno com alta densidade populacional. Segundo a ONU, a maioria da população depende de ajuda internacional para obter alimentos. Além das restrições no espaço aéreo e marítimo, Israel controla o fornecimento de água, energia, combustível e comida.

Segundo Santoro, o fornecimento desses serviços se torna um instrumento de pressão política. Ele destaca que cortar o fornecimento de água e energia elétrica é proibido pelo direito internacional e configura uma violação das leis humanitárias e de guerra.

Em resumo, os conflitos entre Israel e Hamas têm sido abordados pela mídia de forma simplista e desequilibrada, favorecendo uma visão pró-Israel e invisibilizando os problemas enfrentados pelos palestinos. Enquanto alguns especialistas argumentam que a cobertura é completa e diversa, outros destacam a necessidade de contextualização histórica e uma abordagem mais sensível ao sofrimento do povo palestino em Gaza.

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