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Naquela época, o país estava em uma situação similar, lutando contra a inflação com a chamada “conversibilidade”, quando o governo fixou uma paridade de um peso para um dólar. Naquele período, a inflação chegou a atingir a marca de 144,4%, uma taxa que já havia sido quebrada em agosto deste ano, quando o IPC alcançou 124,4%.
Ao analisar os dados mensais, a situação não é diferente. Em setembro, a inflação registrou uma alta de 12,7%, a maior desde fevereiro de 1991, quando os preços subiram 27%. Esses números superaram as expectativas dos economistas, que previam um aumento de 11,5%.
A crise econômica argentina se agravou nos últimos meses, sendo intensificada pela campanha para as eleições presidenciais que ocorrerão em 22 de outubro. Logo após as eleições primárias, o candidato da situação e ministro da Economia, Sergio Massa, determinou uma desvalorização de 21% da moeda oficial, em um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para liberar os empréstimos de US$ 44 bilhões.
Enquanto isso, o dólar blue, que é amplamente utilizado apesar de ser ilegal, viu seu valor subir de 685 pesos para até 1.040 no início de outubro, chegando a 980 pesos nesta quinta-feira. Outro fator que contribuiu para essa valorização foi o bom desempenho do candidato ultraliberal Javier Milei, que defende a adoção do dólar como moeda oficial da Argentina.
O impacto dessa crise pode ser visto nos preços dos alimentos, que mais que dobraram de preço em um ano, com uma alta de 150,1%. Em setembro, os setores de vestuário e calçados registraram uma alta de 15,7%, enquanto lazer e cultura avançaram 15,1%.
A Argentina já enfrentou duas hiperinflações nos anos 1989 e 1990, e então adotou a “conversibilidade” do peso com o dólar, o que resultou em uma queda da inflação para um dígito na época. Entretanto, o aumento das importações gerou uma dívida em moeda estrangeira e causou uma grave recessão que precipitou a crise política de 2001 e a desvalorização do peso.
Segundo o relatório FocusEconomics de setembro, a inflação na Argentina deve aumentar em relação ao ano anterior devido ao colapso do peso e ao financiamento monetário do déficit fiscal, que é a impressão de dinheiro para financiar a dívida pública. A situação econômica do país segue preocupante e merece atenção tanto dos argentinos quanto dos parceiros comerciais e investidores internacionais.