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A dolorosa história do Muro da Cisjordânia: um símbolo dos crimes contra o povo palestino cometidos por Israel

Ainda no início de janeiro de 2023, durante um debate sobre a Palestina, um professor de História relatou-me sobre o imenso e vergonhoso muro que isolava a Cisjordânia do restante do mundo. Ele descreveu a altura intransponível ao esperançar da liberdade, os arames farpados segregadores e a presença constante de guardas armados, mirando as pessoas como inimigas. Com indignação, ele compartilhou que a solidez do insensível concreto e a imensidão do conglomerado de cimento não conseguem esconder os olhares tristes dos palestinos comprimidos nas poucas e vigiadas portas de acesso ao mundo exterior, que um dia já pertenceram integralmente a seus ancestrais. Ele concluiu que o Muro era o símbolo visível dos crimes cometidos pelo Estado de Israel contra o povo palestino ao longo de décadas de cachinas, expropriações, prisões e expulsões – o novo apartheid construído diante do olhar permissivo e cúmplice do mundo.

Como um interlocutor sem conhecimento suficiente para refutar ou acrescentar dados ao relato do professor, ouvi em silêncio como um aprendiz. Lembrando da obra fenomenal de Pablo Picasso, Guernica, em que o artista denuncia o genocídio espanhol comandado pelo ditador Francisco Franco e apoiado pelos nazistas alemães, não pude deixar de desenhar mentalmente uma aquarela que retratava a vergonha do Muro da Cisjordânia como uma cópia do muro erguido pelos nazistas no Gueto de Varsóvia para aprisionar o povo judeu. Na minha obra mental, eu também desenhava muros cercados por concretos, arames, armas e soldados desprovidos de respeito pela condição humana dos moradores da Palestina cercada.

Eu ilustrava a cena deprimente do Gueto de Varsóvia, com nazistas olhando os aprisionados como uma espécie inferior, insignificante e desprezível, na qual a morte não tinha valor algum. A morte, a fome e a doença eram mercadorias baratas, jogadas em sarjetas abertas e visíveis para todos. Sem perceber, o imperdoável Holocausto judeu inspirava a tela que reproduzia em mim uma espécie de Holocausto palestino. Minha aquarela inconsciente retratava o sofrimento e os crimes cometidos devido à soberba de uma raça que se considerava pura, branca e suprema.

Encontrar uma solução ideal para o enigma de como conter o avanço deliberado do Estado de Israel sobre os direitos naturais do Estado da Palestina não é tarefa fácil. Devemos esperar que um partido político humanista vença as eleições? Aguardar o surgimento de uma liderança israelense que respeite os palestinos como seres humanos, conduzindo-nos a um processo definitivo de paz? Precisamos afastar pela força a elite política reacionária que os mata? Devemos criar um partido árabe em seu território para enfrentar a extrema-direita? Ou talvez formar um exército poderoso e nuclearmente estruturado para enfrentar as forças armadas dos invasores? Devemos convencer os Estados Unidos e os países que investem e lucram com Israel a se retirarem, após um choque de humanismo?

Os livros de História e a criação do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto pela Organização das Nações Unidas (ONU) estavam certos ao revelar ao mundo os crimes nazistas para que a tragédia não se repetisse. No entanto, a questão palestina demonstra que não aprendemos com o passado. Da mesma forma, as guerras atuais mostram que os países não compreenderam a arte-denúncia de Picasso. De que adianta pedirmos para não esquecermos o sofrimento do povo judeu, se esquecemos do sofrimento do povo palestino? Será que a comunidade internacional acredita que os palestinos pertencem a uma raça menor, insignificante e desprezível, na qual a morte não tem valor? Serão os países que apoiam e a população que elege os políticos que constroem muros de ódio, segregacionismo e guerras nada santas cúmplices das bombas e atentados que ceifam vidas na Palestina? Será que foi ingenuidade acreditar que a ONU adotaria medidas rigorosas contra o Estado de Israel, forçando-o a cumprir suas próprias decisões e deixar os territórios ilegalmente ocupados?

Como pacifista, não concordo com guerras ou assassinatos de civis como instrumentos ideológicos ou de persuasão. A morte e o ódio não são bases para nenhum processo de paz. Como pacifista convicto, gostaria de desenhar uma Palestina diferente da atual, governada por princípios mais justos e construída por um governo de unidade nacional, onde todas as ideias, pessoas, convicções políticas, pensamentos políticos, fé religiosa e etnias pudessem viver em harmonia, com instituições democráticas e, acima de tudo, o direito de escolha. Gostaria de escolher agora uma nova forma de caminhar, sem ódio, intolerância e violência. Sem muros e paredes de ódio.

Embora nunca tenha estado na Palestina, minha conversa com o professor me estimulou a estudar melhor o assunto ao longo do tempo. No mês de abril, escrevi um livro intitulado “Era uma vez a Palestina”, no qual narro, na minha visão, as páginas escritas pelos povos que testemunharam o nascimento do judaísmo, do cristianismo e do islamismo – as grandes religiões monoteístas nascidas de Abraão. Em breve, irei publicá-lo. Essa foi a forma que encontrei para contribuir com a proposta de fazer de Jerusalém a Capital da Paz e o berço carinhoso de diversas religiões. Não mais passos de desamor, intolerância e violência. Não mais caminhos regados a bombas, massacres, segregacionismo e soberba racial. Não mais muros e paredes de ódio.

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