DestaqueUOL

Alas do governo e parlamentares se dividem sobre atuação de ministro e avanço de delação na investigação contra Bolsonaro

No cenário político atual, as recentes descobertas da Polícia Federal têm causado divergências entre os integrantes do governo e parlamentares. Enquanto o presidente Lula, do PT, utiliza essas descobertas como munição contra seu adversário, Jair Bolsonaro, do PL, alas do governo e aliados do presidente se dividem em relação à atuação do ministro Alexandre de Moraes e aos avanços da delação do tenente-coronel Mauro Cid.

Ministros e aliados do presidente Lula no Congresso observam com cautela a forma como a colaboração de Cid foi firmada com o Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto ele estava preso. Esses integrantes destacam que essa conduta lembra os métodos utilizados durante a Operação Lava Jato.

Essa preocupação se deve ao fato de que, se a delação de Cid não apresentar provas robustas, não haveria motivo para fechá-la, algo que tem sido criticado nos acordos feitos durante a Lava Jato.

Por outro lado, o ministro da Justiça, Flávio Dino, tem apoiado publicamente todas as ações da Polícia Federal, que está sob seu comando. A delação de Cid foi homologada em 9 de setembro por Alexandre de Moraes, ministro do STF.

Uma das principais preocupações entre os aliados do presidente Lula é o poder concentrado nas mãos de Moraes. Enquanto ele tem mirado adversários políticos do petista, suas ações são vistas por alguns como um fortalecimento excessivo.

Nas conversas, aliados do presidente apontam que Moraes tem origem de centro-direita, sendo indicado pelo ex-presidente Michel Temer, e também mencionam o risco do ativismo judicial.

Essas pessoas argumentam que, se Flávio Dino for indicado ao STF, haveria a constituição de um triunvirato na corte, composto também por Moraes e Gilmar Mendes.

Apesar desses argumentos, Lula continua prestigiando Moraes, que também é ouvido nas indicações para tribunais.

Além do fortalecimento político do STF, há receios entre os aliados do presidente de que essa empreitada contra Bolsonaro e seus aliados acabe ampliando o poder do grupo político oposto ao de Lula.

Segundo esses aliados, Moraes tem tomado medidas necessárias para preservar a democracia diante das tentativas golpistas de Bolsonaro, ainda que algumas sejam controversas do ponto de vista jurídico. O problema é que não se sabe quando essas medidas irão cessar.

Há também o temor de que, eventualmente, o ministro direcione suas armas contra a esquerda.

Auxiliares do presidente e aliados no Congresso mostram apreensão em relação a uma possível prisão de Bolsonaro decorrente das investigações em curso. Até o momento, a Polícia Federal não possui elementos suficientes para efetuar uma prisão preventiva do ex-presidente, mas analisa essa possibilidade caso surjam elementos nesse sentido.

Essa análise leva em consideração os efeitos políticos que poderiam ser gerados e a expectativa de que Bolsonaro seja condenado pelo STF no próximo ano.

Segundo os investigadores, existem provas para indiciar o ex-presidente por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, sendo as investigações sobre a venda de joias o ponto central desse caso.

Questionado sobre o assunto, Lula evitou falar sobre a delação em si, mas mencionou as suspeitas que recaem sobre Bolsonaro, afirmando que não pode dar palpite sobre o que desconhece. Ele também afirmou que a cada dia é reforçada a perspectiva de golpe e que Bolsonaro estava envolvido até os dentes.

A delação de Cid tem contribuído para as investigações do inquérito 4874, relatado por Moraes, que abrange a venda de joias, a suposta falsificação de cartão de vacina e diálogos de cunho golpista encontrados no celular de Cid.

O instrumento da delação premiada foi um dos pilares das investigações da Lava Jato, e agora alguns alvos importantes da operação tentam revisar as obrigações impostas no passado ou criticam as circunstâncias em que aceitaram colaborar com as autoridades.

Entre esses alvos estão ex-executivos da Odebrecht, políticos e até mesmo o doleiro Alberto Youssef, considerado um dos pivôs da Lava Jato.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo