
Infelizmente, essas regiões sofrem com o abandono das políticas públicas que possibilitariam às pessoas conviver com a seca. Um estudo da Embrapa Territorial revelou que a maioria das cidades consideradas prioritárias para a instalação de cisternas não recebeu nenhum reservatório no último ano. Isso cria uma situação alarmante, especialmente para os moradores de Mata Grande, que atualmente vivem em situação de emergência e dependem da operação carro-pipa do Exército para ter acesso à água. No entanto, existem áreas de difícil acesso que não são alcançadas pelos caminhões que transportam a água.
Entre esses moradores está Inês Galdino, uma agricultora de 82 anos que vive em uma das casas que necessita de uma cisterna, mas não possui uma. Ela lamenta o abandono do programa federal de cisternas durante a gestão de Jair Bolsonaro e destaca que o governo Lula havia prometido retomá-lo, beneficiando 60 mil pessoas. Inês vive praticamente da mesma forma que quando chegou ao local em 1961, sem banheiro dentro de casa ou acesso à TV.
A situação se agrava pela falta de acesso a fontes de água, que podem ficar a até duas horas de caminhada em terrenos acidentados. Além disso, é necessário buscar água potável para tomar banho, lavar louça e alimentar animais, entre outras tarefas diárias. A falta de água também impacta a alimentação, uma vez que a agricultura é fonte de renda e subsistência para as famílias.
Enquanto o poder público falha em suprir essa demanda, a comunidade do Urubu, vizinha de Mata Grande, começa a ver uma mudança em sua realidade graças à ação da Visão Mundial em parceria com a iniciativa privada, que instalou cisternas na região. A expectativa é que até 2024 sejam instaladas cem cisternas na comunidade. Essa mudança tem um impacto significativo na vida dos beneficiados, como Cícero Claudino da Silva, que agora pode diminuir suas viagens até a fonte de água.
A escassez hídrica não afeta apenas as áreas rurais, mas também cidades como Minador do Negrão, que ainda enfrentam problemas de falta de água encanada. A associação de agricultores da cidade destaca a carência de cisternas para a produção de alimentos. Em 2021, alguns moradores passaram por treinamentos para receber esses equipamentos, mas trinta deles ainda aguardam a instalação.
A falta de água no semiárido brasileiro é um problema que afeta a vida de milhares de pessoas. Com apenas 3% de água reservada, a região depende das precipitações para abastecer seus habitantes. Segundo a Articulação Semiárido Brasileiro, há uma demanda de cerca de 350 mil cisternas para captar as chuvas. Essas cisternas são essenciais para reduzir a dependência dos políticos locais e melhorar a qualidade de vida das comunidades afetadas.
Diante desse quadro preocupante, é fundamental que o poder público tome providências para garantir o acesso à água potável para a população do semiárido de Alagoas. Investir na instalação de cisternas e no desenvolvimento de políticas efetivas é essencial para proporcionar condições dignas de vida para essas comunidades. Enquanto isso não acontece, os moradores continuam enfrentando longas jornadas em busca de água, seja caminhando ou contando com a ajuda de animais de carga.