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Maria Bethânia emociona ao cantar música de amor em homenagem a Ministro do STF

Por Sarah Oliveira

Preciso não dormir

Até se consumar

O tempo

Preciso não dormir. Preciso não dormir. Não posso dormir, tenho pressa. Urgência. Não tenho um minuto a perder do tempo que nos resta, até se consumar a gente. E nosso fim nesse plano. O fim do nosso tempo juntos.

Como nunca tinha prestado maior atenção à letra dessa música, justo eu que penso sempre em vida e fim? Que soube, ainda criança, que as coisas terminam, porque ouvi que para sempre é sempre por um triz. E dei, por isso, a minha filha o nome Beatriz.

Só agora, ouvindo a entonação de Maria Bethânia, a pedido de um homem enlutado, que quase consegui acessar a dor da morte da perspectiva do amor. A necessidade de encontrar o tempo de amar, todo o tempo que houver, com urgência. Mas também devagar, a tempo de a gente se poder desvencilhar da gente e não deixar para trás, para você, só o vazio da minha partida.

Sei que deveria, nesse texto, contextualizar o que digo, que falo sobre o pedido do Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Barroso, para que “a extraordinária e incomparável artista Maria Bethânia”, que houvera cantado o hino nacional no início de sua posse como presidente daquele tribunal, atendesse a um pedido de homenagem. “Há uma fagulha divina em tudo que ela faz”, Barroso justifica, como se preciso fosse, antes de pedir para Bethânia fazer uma homenagem. Uma homenagem “que todos haverão de entender, cantando uma linda música, uma linda declaração de amor”. Tereza Cristina van Brussel Barroso, esposa da pessoa Luís Barroso, morreu em janeiro deste ano, em decorrência de um câncer.

Talvez, eu até devesse incluir maiores informações sobre eles, a mulher e o homem que existem para além da esposa e do Ministro do Supremo Tribunal Federal, lembrar que as posições que ocupamos são apenas um dos aspectos da nossa biografia e que muitas vezes somos apenas humanos com dor. Mas eu só tenho a dividir Todo o Sentimento.

Encontrei uma dissertação de mestrado que diz que, na letra de “Todo o Sentimento”, música de Chico Buarque e Cristóvão Bastos, “é percebida a impossibilidade de retroagir e conjugar tempo e sentimento a partir de uma lógica pretérita que tudo retome e refaça, incompatível com a matéria corporal, instância sensível do sujeito sobre a qual incide, inapelavelmente, o fluxo incessante do tempo”. Ela também diz outras coisas, entre semibreves e intervalos que não entendo, e com algumas até nem concordo.

Prometo te querer

Até o amor cair

Doente

Doente

Sei que há uma literalidade ali, sobre o amor que cai doente, o sentimento que termina. Mas o que é que acontece com o amor quando a pessoa amada morre? E, para a pessoa amada que está perto do fim da sua vida, como será que é pensar no restante tempo de amar?

Inverto a ordem das estrofes. E penso que talvez dê tempo de descobrir, no último momento, um tempo que recolhe todo o sentimento e bota no corpo uma outra vez.

E assim, “depois de

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