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Meu nome é Nataly Castro, uma jovem moradora da Vila Carrão, localizada na zona leste de São Paulo. Com 28 anos de idade, sou filha de um marceneiro e de uma neuropsicopedagoga. Desde criança, meus pais sempre me incentivaram a investir nos estudos, sabendo que a educação seria o caminho para eu alcançar grandes conquistas. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, minha família sempre se esforçou para nos proporcionar alimento e educação.
Há cerca de quatro anos, tive a ideia de realizar um projeto ousado: visitar todos os países reconhecidos pela ONU e, em seguida, iniciar um programa de bolsas de intercâmbio para jovens brasileiros de baixa renda. Além disso, pretendia bater o recorde mundial do Guinness de mulher que visitou todos os países em tempo recorde. O custo estimado para essa viagem era de aproximadamente R$ 500 mil. Como não possuía essa quantia, decidi abrir uma cafeteria para arrecadar fundos.
No entanto, algumas semanas após alugar o espaço, a pandemia começou e meus planos de iniciar a viagem foram adiados. Utilizei esse tempo para estruturar o negócio e desenvolver o projeto da viagem, buscando parcerias e patrocínios. Enviei mais de 50 mil mensagens, acreditando que um projeto de cunho socioeducacional desse porte chamaria a atenção e arrecadaria recursos rapidamente. No entanto, recebi apenas cinco respostas positivas. Decidi então começar com o que tinha, pois se esperasse pelas condições perfeitas nunca começaria.
Com o dinheiro investido na cafeteria, deixei o estabelecimento aberto na esperança de levantar recursos para custear a viagem. Iniciei minha jornada ao redor do mundo com R$ 15 mil e seis parcerias. Parti com a certeza de que muitas coisas aconteceriam pelo caminho. Era hora de explorar o mundo, conhecer diferentes culturas, aprender, ensinar e inspirar.
No terceiro país visitado, sofri um acidente de moto e fui levada de ambulância para o hospital. O osso do meu pé direito trincou, mas isso não me impediu de seguir em frente. Continuei a viagem com o pé enfaixado, utilizando muletas e até mesmo uma cadeira de rodas para me locomover. Sabia o que queria e não deixaria essa situação me deter. Foram países visitados com dores, medicamentos, lágrimas e aventuras.
Consegui visitar 50 países com o dinheiro que tinha, graças à minha habilidade de planejar rotas, priorizar o essencial e reduzir custos através de hospedagens pelo caminho. Além disso, visitei outros 30 países de ônibus, graças ao patrocínio da Flixbus, e economizei em refeições com a parceria da Priority Pass, que me proporcionou acesso ilimitado às salas VIP nos aeroportos.
Entretanto, meus recursos financeiros estavam se esgotando. Decidi vender a cafeteria, abrindo mão de um sonho para sustentar outro. Embora tenha me entristecido, sabia que era algo que valia a pena, afinal, sou empreendedora e sabia que, no futuro, conseguiria abrir outro negócio.
Infelizmente, não consegui vender a cafeteria pronta. Minha família precisou desmontá-la e vender cada item separadamente. A cada peça vendida, eles me enviavam o valor para que eu pudesse continuar minha viagem. Algumas semanas depois, surgiu a primeira empresa que patrocinou financeiramente o meu projeto, a BeFly, o maior ecossistema de negócios focado em turismo. Graças a eles, pude conhecer mais de 60 países.
Viajar é uma experiência incrível e uma oportunidade de explorar o mundo em que vivemos. Sair da zona de conforto pode trazer surpresas. Estamos sujeitos a vivenciar situações negativas, mas é importante enxergar o que cada experiência pode nos ensinar. Durante minha jornada, tenho aprendido muito com as diferentes culturas, costumes e tradições dos povos de outros países. Essa diversidade mostra que, apesar das diferenças, somos todos parecidos.
Viajar sozinha também tem seus prós e contras. Uma vantagem é a possibilidade de fazer novas amizades. Em alguns lugares, ser mulher também é uma vantagem, pois as pessoas tendem a cuidar, proteger e acolher. Muitas portas se abriram para mim, oferecendo refeições gratuitas, acomodações, caronas e diversas formas de ajuda, justamente por eu ser uma mulher viajando sozinha.
No entanto, a vulnerabilidade também é uma preocupação ao passar por lugares onde a segurança é baixa, conflitos e guerras estão presentes ou onde as mulheres têm menos direitos. Apesar disso, minha determinação em alcançar meu objetivo me impulsiona a seguir em frente.
Originalmente, meu plano era passar pouco tempo em cada país para conseguir visitar todos. Porém, durante a viagem, muitas coisas mudaram e acabei ficando mais tempo em alguns lugares. Estou na reta final da jornada e posso afirmar que, se não fosse pela limitação financeira, teria concluído essa viagem em menos de um ano. Acredito que a visita a um lugar vai muito além do tempo que passamos lá, mas sim do que fazemos durante esse período.
Estou abrindo portas e caminhos, inspirando pessoas e gerando oportunidades. Minha viagem tem sido um exemplo de superação, resiliência e determinação. Não estou apenas fazendo turismo, estou realizando uma jornada para conectar pessoas e sonhos.
Já visitei mais de 135 países e me aproximo cada vez mais da meta de visitar 200. Decidi encerrar essa jornada no continente africano, um lugar que considero muito especial. Com 54 países, a África possui uma história, cultura, diversidade e potência únicas. Ao pisar pela primeira vez em solo africano, senti uma conexão profunda, como se estivesse voltando para casa mesmo sem ter estado lá antes.
Minha trajetória até aqui foi marcada por obstáculos e superações. Minha mãe costumava dizer que tínhamos que ser excelentes alunos duas vezes: primeiro, porque era nosso dever; segundo, porque somos negros. Durante minha adolescência, sofri episódios de racismo na escola. Alguns alunos não aceitavam uma jovem negra se destacando, sendo escolhida pelos professores e diretores para participar de eventos e projetos. Recebi apelidos, xingamentos, ameaças, empurrões e cuspidas.
Por meses, guardei essas situações só para mim, indo para casa sem contar a ninguém. Minha mãe só descobriu o que estava acontecendo quando começou a ser chamada várias vezes na escola para me buscar mais cedo. Na época, eu estava exausta e em princípio de depressão. Cheguei a pensar que tirar minha própria vida seria a solução para acabar com tudo.
Num desses momentos, olhei para o céu e vi um avião passando. Me perguntei para onde aquele avião estava indo. Estava cheio de pessoas, partindo para algum lugar. Foi nesse momento que pensei que um dia eu entraria em um daqueles aviões e viajaria para lugares