
“Eu sempre sou a mais velha”, diz Diane, referindo-se às outras alunas em sua turma semanal. No início, aprender as técnicas foi desafiador, mas agora ela ocasionalmente sente que está realmente dançando. “É surpreendente, algo que eu jamais imaginei que seria possível.”
Nos últimos anos, o balé tem ganhado popularidade entre adultos mais velhos. Embora não haja dados precisos sobre o número de idosos praticando balé, em 2017 já havia interesse suficiente para que a Royal Academy of Dance criasse o programa Silver Swan, com o objetivo de ensinar dança para pessoas com 55 anos ou mais. Desde então, a academia já certificou mil professores em 51 países ao redor do mundo.
Essa crescente demanda ocorre em um momento em que estamos expandindo nosso entendimento sobre os benefícios potenciais do balé, especialmente para a saúde física e mental dos idosos.
Estudos demonstram que a partir dos 40 anos, o equilíbrio se torna uma habilidade essencial ligada à longevidade e qualidade de vida. Em uma pesquisa, descobriu-se que 20% das pessoas com mais de 50 anos não conseguem se equilibrar em um pé por mais de 20 segundos, o que está relacionado a um risco duas vezes maior de morte em até dez anos.
As aulas de balé frequentemente enfocam o equilíbrio em um pé ou a estabilidade durante a transferência de peso de uma posição para outra. De acordo com Madeleine Hackney, professora da Escola de Medicina da Universidade Emory, poucas disciplinas treinam os membros inferiores como o balé. Embora ioga e pilates também desenvolvam flexibilidade e fortaleçam o “core”, o balé oferece uma variedade maior de movimentos, como saltos e alongamentos.
Além disso, o balé oferece benefícios cognitivos. Um estudo realizado ao longo de 21 anos pelo Instituto Nacional sobre Envelhecimento concluiu que pessoas que dançam algumas vezes por semana têm um risco 76% menor de desenvolver demência. Isso ocorre porque ao dançar, é necessário memorizar sequências de passos, coordená-los com a música e executá-los corretamente. Essa atividade cognitiva intensa mantém a mente ativa e ajuda a preservar a saúde cerebral.
No entanto, muitas pessoas mais velhas têm medo de retornar às aulas de balé ou começar a praticá-lo, principalmente por acreditarem que a atividade é exclusiva para pessoas jovens e magras. Michael Cornell, fundador da Align Ballet Method, uma escola de balé para adultos na Califórnia, afirma que é difícil conquistar novos alunos, pois há uma percepção tóxica de que o balé é restrito a um determinado perfil.
Para combater essa ideia, Cornell incentiva o uso de roupas confortáveis nas aulas, ao invés de exigir vestimentas específicas de balé. Além disso, ele garante que o estúdio seja inclusivo e aberto a pessoas com diferenças físicas. Ronald Alexander, instrutor da Ailey Extension em Nova York, ressalta que é possível adaptar os exercícios para aqueles que possuem lesões ou problemas físicos.
O maior obstáculo, segundo o ator Joe Seely, de 60 anos, é aceitar a possibilidade de falhar diante dos outros. Seely começou a estudar balé há dez anos e afirma que, independentemente da idade, a prática é desafiadora. No entanto, superar a expectativa de perfeição pode ser libertador e proporcionar satisfação pessoal.
Diane conclui dizendo que, no balé, ela não se destaca como nas outras atividades que domina, e talvez nunca se destaque. No entanto, ao se libertar dessa pressão, ela encontrou uma paz meditativa durante as aulas de balé, algo que não apreciava quando era criança.
É cada vez maior o número de adultos mais velhos que encontram no balé uma forma de manter-se ativos, melhorar o equilíbrio, fortalecer os músculos e, acima de tudo, desfrutar da dança e da sensação de liberdade que ela proporciona.