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Museu Nacional da Dinamarca devolverá manto Tupinambá ao Brasil após mais de 300 anos no acervo estrangeiro

O Museu Nacional da Dinamarca anunciou recentemente que irá devolver ao Brasil um manto Tupinambá que foi levado para o país durante o período colonial, durante a ocupação holandesa no século 17. Essa peça, que possui plumagem avermelhada, está no acervo do museu dinamarquês há mais de 300 anos e era utilizada em rituais religiosos importantes e outras cerimônias indígenas.

A devolução desse manto trouxe à tona uma discussão importante sobre as muitas relíquias etnológicas, muitas vezes indígenas, que foram levadas para o exterior e ainda estão fora do Brasil, expostas em museus ou em coleções privadas de arte. Especialistas na área defendem que a repatriação dessas peças não pode acontecer sem ações adicionais que visem manter vivo o legado imaterial dos povos que as produziram.

Sandra Benites, curadora indígena Guarani Nhandeva e diretora da Fundação Nacional de Artes (Funarte), afirma que não basta trazer as peças de volta para o Brasil, é necessário questionar como essas instituições podem organizar uma forma de reparação histórica para as comunidades e populações indígenas do país. Ela também defende que os indígenas tenham acesso garantido a esses artefatos, uma vez que foram produzidos por eles.

Anita Ekman, artista e pesquisadora independente, explica que a retirada dessas obras de arte do Brasil está intimamente ligada às expedições naturalistas científicas do século 19. Na época, essas coleções foram criadas para coletar dados e materiais científicos, como forma de entender os povos indígenas e a natureza. Ekman argumenta que a retirada dessas peças também estava relacionada ao racismo científico presente naquele período.

Para mudar essa perspectiva, Ekman e Benites defendem uma mudança no termo “repatriação” para “rematriação”. Essa mudança visa valorizar o fato de que muitas vezes essas peças foram produzidas por mulheres indígenas e aprofundar o significado da devolução, indo além de uma simples troca de objetos etnológicos entre países.

As negociações para a devolução do manto Tupinambá ao Brasil envolveram a embaixada brasileira em Copenhague, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu Nacional da Dinamarca. Os ministérios das Relações Exteriores, Cultura, Educação e dos Povos Indígenas agradeceram a devolução do item, afirmando que possui grande valor físico, cultural e espiritual para os povos originários brasileiros.

Essa devolução será uma contribuição significativa para a reconstrução do Museu Nacional do Brasil após o incêndio devastador que ocorreu há alguns anos. O manto será honrado, valorizado e acessível aos povos indígenas, contribuindo para o resgate da história e da cultura desses povos.

É necessário que haja um diálogo entre as instituições que possuem a guarda desses objetos, de forma a garantir que não apenas sejam repatriados, mas que também sejam utilizados para fortalecer museus locais, como o Museu do Marajó, e as comunidades indígenas, que poderão trabalhar com esses materiais, salvaguardando o patrimônio imaterial e protegendo seus territórios e sítios arqueológicos. A rematriação não se trata apenas de devolver as peças, mas também de criar condições para que essas comunidades tenham acesso e possam preservar sua história e cultura.

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