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Câmara Municipal de São Paulo realiza ato em memória dos desaparecidos da ditadura militar e marca os 33 anos da descoberta da Vala de Perus

A Câmara Municipal de São Paulo realiza hoje à noite um ato em memória dos desaparecidos e mortos durante a ditadura militar, que completa 33 anos da descoberta de uma vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Essa vala continha mais de 1 mil ossadas humanas, que foram enterradas como indigentes, mas a maioria possuía fichas com nome e filiação. A entidade de defesa dos direitos humanos Instituto Vladimir Herzog destaca que, até o ano passado, somente cinco ossadas haviam sido identificadas.

Segundo o Instituto, os restos mortais das vítimas ficaram armazenados de forma inadequada por muitos anos, o que dificultou o trabalho de identificação. Além disso, nos últimos quatro anos, o grupo de pesquisadores autorizados a identificar as vítimas teve que lidar com impedimentos durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A atividade de identificação é conduzida pelo governo federal e regulamentada por uma ação movida pelo Ministério Público Federal, em uma tramitação na Justiça Federal. O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é uma das instituições responsáveis por esse trabalho desde 2018.

Durante o período em que puderam atuar, os pesquisadores do CAAF-Unifesp concluíram a primeira etapa do trabalho, que consistiu na coleta de amostras de DNA que não se misturaram a outras vítimas. Essas amostras foram enviadas para especialistas na Holanda para serem comparadas com o material genético de familiares das vítimas. Agora, a equipe aguarda um novo acordo do governo para dar prosseguimento à segunda etapa, que permitirá analisar amostras com material de mais de uma pessoa.

Até o momento, Aluísio Palhano e Dimas Antônio Casemiro são as únicas vítimas identificadas. Palhano foi preso no DOI-Codi e teve sua identidade confirmada em 2018. Já Casemiro, influenciado pelos princípios do socialismo, tornou-se militante.

Um dos momentos marcantes envolvendo a descoberta das ossadas foi quando o jornalista Caco Barcelos encontrou laudos com data de 1971 a 1973 em uma sala do Instituto Médico Legal. Nos documentos, havia uma letra “T” feita à mão com lápis vermelho que, segundo o Instituto Vladimir Herzog, se referia a “terrorista”.

Carla Osmo, coordenadora do CAAF-Unifesp, ressalta que ainda não se sabe ao certo a identidade de várias vítimas, especialmente aquelas de periferias. Ela defende que o Estado cumpra seu dever de identificação das vítimas e estruture um memorial em homenagem a elas, ouvindo os pesquisadores envolvidos, os familiares, a comunidade de Perus e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O ato realizado pela Câmara Municipal de São Paulo é uma forma de manter viva a memória das vítimas da ditadura militar e lembrar que muitas famílias não puderam fazer uma despedida digna de seus entes queridos que foram mortos pela violência de Estado. A Vala de Perus é uma das evidências mais marcantes da atrocidade cometida durante o regime e é importante que esse capítulo da história brasileira seja lembrado e estudado para que respostas sejam encontradas e justiça seja feita.

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