O Ministério de Minas e Energia (MME) solicita à Eletrobras a suspensão do Programa de Demissão Voluntária.
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Em um novo ofício enviado na quarta-feira (30) à Eletrobras, o ministério expressou sua preocupação por não ter recebido até o momento o plano de investimentos futuros para a geração e transmissão de energia nos próximos anos, e como a redução da força de trabalho afetará as atividades da empresa. O documento salienta que, sendo a União a maior acionista da empresa e o MME responsável por garantir o equilíbrio entre oferta e demanda de energia elétrica no país, é legítimo que a pasta tenha acesso a essas informações para avaliar a preparação da Eletrobras, a maior empresa do segmento no Brasil, na manutenção e operação de seus ativos, fundamentais para a confiabilidade do fornecimento de energia elétrica.
O MME mencionou que o apagão ocorreu em ativos operados pela Companhia Hidro Energética do São Francisco – CHESF, subsidiária da Eletrobras. O relatório preliminar divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indica que o desempenho aquém do esperado das fontes de geração próximas à linha de transmissão Quixadá – Fortaleza II, de propriedade da Chesf, pode ter causado a queda de energia que afetou 29 milhões de pessoas no país.
Segundo os trabalhadores do setor, a possibilidade de redução no quadro de funcionários contribuiu para o evento. O engenheiro eletricista Ikaro Chaves, ex-dirigente sindical e ex-conselheiro eleito do Conselho de Administração (Consad) da Eletronorte, uma subsidiária da Eletrobras, afirmou que mais de 2.400 trabalhadores foram demitidos desde o final do ano passado até agora. Ele alerta que a redução drástica no número de funcionários afeta a confiabilidade da operação da empresa, sobrecarregando as equipes de campo.
O engenheiro ressalta que a Eletrobras teve uma redução significativa de seu quadro nos últimos anos, passando de 26 mil empregados em 2016 para pouco mais de 8 mil atualmente. Ele destaca a importância de haver um processo de transferência de conhecimento entre os funcionários mais experientes e os novos contratados, especialmente em uma empresa que atua em um setor essencial e estratégico como o setor elétrico. Chaves alerta que as demissões comprometem a segurança desse setor.
Ikaro Chaves entrou no Grupo Eletrobras em 2007 e enfrentou um processo de demissão por justa causa devido a seus posicionamentos contrários à privatização da companhia no governo Bolsonaro. Após pressão de trabalhadores, sindicalistas e políticos, a empresa suspendeu o processo, mas deixou claro que ele seria demitido de qualquer maneira. Chaves aderiu ao PDV e foi demitido recentemente.
O MME já havia solicitado à Eletrobras a suspensão do PDV em julho, mas não obteve resposta. A Eletrobras ainda não se pronunciou sobre o assunto.