Agência BrasilDestaque

Viúva de vítima da chacina de Vigário Geral afirma: a dor nunca se cura.

No dia 29 de agosto de 1993, a vida de Iracilda Toledo foi gravemente afetada. Nessa data, seu marido, Adalberto de Souza, foi brutalmente assassinado por policiais militares em um bar na comunidade de Vigário Geral, zona norte do Rio de Janeiro. Hoje, após 30 anos, essa data ainda representa uma dor insuportável para ela, mesmo que haja um motivo para celebração no dia anterior, o aniversário de um netinho.

Naquele fatídico dia, Adalberto foi uma das 21 pessoas mortas pelos integrantes do grupo conhecido como Cavalos Corredores, formado por policiais do batalhão da área. Os assassinos tinham como objetivo vingar a morte de quatro companheiros, ocorrida anteriormente nas mãos de uma facção criminosa que controlava o tráfico de drogas em Vigário Geral.

No entanto, os alvos dessa retaliação foram escolhidos aleatoriamente. Nenhum deles tinha qualquer relação com a quadrilha que havia matado os policiais. Adalberto, por exemplo, era um ferroviário de 40 anos que morava em uma casa de propriedade da empresa federal para a qual trabalhava. Ele estava no bar naquela noite fatídica, acompanhado de outras seis pessoas, quando foi tirado brutalmente de sua família e de sua comunidade.

O horror se estendeu para além desse bar. Em uma casa próxima, oito pessoas de uma mesma família foram executadas. Nas ruas, outras seis pessoas também perderam a vida nesse episódio de violência desmedida. Iracilda, que hoje é presidente da Associação de Familiares das Vítimas de Vigário Geral, descreve a dor como insuportável e como algo que a acompanhará enquanto viver.

Apesar da gravidade e do impacto causado pela chacina, a Justiça não foi capaz de proporcionar justiça completa às vítimas e suas famílias. Das 52 pessoas denunciadas por envolvimento no crime, apenas quatro foram condenadas. Dois dos condenados já estão em liberdade condicional e, tristemente, dois outros foram assassinados. Além disso, alguns condenados foram absolvidos posteriormente em novos julgamentos.

No ano passado, uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa garantiu que as 13 famílias das vítimas recebessem novamente pensão vitalícia do Estado. Essa foi uma pequena medida de reparação, mas que ainda está longe de apagar a dor e o sofrimento causados por essa tragédia.

Hoje, para marcar os 30 anos dessa chacina, está prevista a inauguração de um monumento com os nomes das 21 vítimas na Praça Catolé do Rocha, em Vigário Geral. Além disso, uma missa será celebrada à noite, no Centro Cultural Waly Salomão, pelo arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta. A iluminação do Cristo Redentor na cor verde, às 19h, também será um gesto simbólico nessa data de lembrança e luta por justiça.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo