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Estudo revela que molécula de veneno de peixe pode auxiliar no tratamento da asma, trazendo esperança para os pacientes.

Um estudo realizado pelo Instituto Butantan, publicado na revista Cells, revelou resultados promissores no tratamento da asma utilizando um peptídeo derivado do veneno do peixe niquim (Thalassophryne nattereri), chamado TnP. A asma, doença respiratória crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, é responsável por milhares de mortes anualmente, principalmente em países com acesso limitado a diagnóstico e tratamento adequados.

A descoberta da proteína com propriedades anti-inflamatórias, proveniente do veneno desse peixe, ocorreu em 2007 pelo Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Butantan. Desde então, pesquisadores têm investigado possíveis aplicações terapêuticas dessa molécula em doenças inflamatórias.

No estudo atual, foi comparado um grupo de animais com asma tratados com o peptídeo TnP com outro grupo tratado com a dexametasona, fármaco comumente utilizado para tratar a doença, além de animais não tratados. Os resultados mostraram que tanto o tratamento convencional quanto o peptídeo reduziram significativamente o número de células que causam inflamação e dano no pulmão. No caso dos eosinófilos, responsáveis pela inflamação em pacientes com asma, a redução chegou a 100%.

Além disso, o tratamento com TnP também reduziu a remodulação das vias aéreas e a quantidade de muco presente no pulmão. Um ponto importante é que não foram observados efeitos adversos, comuns em terapias convencionais, como taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares.

A pesquisadora responsável pelo estudo, Mônica Lopes-Ferreira, explicou que o veneno do peixe niquim passou por um processo de cromatografia para identificar peptídeos, até chegar a uma fração que não causava danos. Essa descoberta permitiu o sequenciamento genético do TnP, o que possibilita a produção de peptídeos sintéticos em laboratório, eliminando a necessidade de extrair o veneno do peixe para testes futuros em diferentes doenças.

Vale destacar que em um estudo anterior, publicado em 2017 na revista PLOS One, o TnP também demonstrou potencial contra a esclerose múltipla, atrasando o aparecimento dos sintomas e reduzindo a gravidade da doença em camundongos. A próxima etapa da pesquisa será testar o tratamento em modelos de doenças oculares.

Outro aspecto importante é a segurança do peptídeo. Para avaliá-la, a equipe de pesquisa testou a molécula em zebrafish, um modelo animal que apresenta semelhança genética significativa com humanos. Os resultados não indicaram disfunções cardíacas nem problemas neurológicos causados pelo peptídeo.

O veneno do peixe niquim é estudado pelo Instituto Butantan desde 1996. Essa espécie, encontrada principalmente no Norte e Nordeste do Brasil, é considerada peçonhenta e pode causar acidentes graves. O contato com seus espinhos provoca dor intensa, queimação, inchaço e necrose.

Essa descoberta no campo da asma representa um avanço significativo no tratamento dessa doença crônica, fornecendo uma alternativa eficaz e segura para milhões de pessoas em todo o mundo. A possibilidade de produção sintética dos peptídeos permitirá o desenvolvimento de estudos mais aprofundados em diferentes patologias.

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