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De acordo com as autoridades, o traficante procurado não foi localizado na Cracolândia, contrariando rumores anteriores.

Há décadas, São Paulo é palco de cenas tristes e recorrentes. Nas ruas da cracolândia, região central da capital paulista, multidões se aglomeram em torno do comércio e uso de crack. Além dos altos índices de criminalidade e violência, a situação também desperta temor na população local. Para tentar controlar a situação, o governo de São Paulo e a prefeitura têm realizado operações policiais para coibir o tráfico na região. No entanto, o psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dartiu Xavier da Silveira, acredita que essa abordagem não contribui efetivamente para solucionar o problema.

De acordo com o médico, que trabalha com dependentes químicos há 40 anos, a questão central é a vulnerabilidade social, que se torna um fator de risco para pessoas em situação de rua abusarem das substâncias. Ele enfatiza que usar o termo “cracolândia” é inadequado, pois dá a entender que a situação é uma diversão, quando na verdade é um alívio para o sofrimento causado pela miséria social. Silveira defende políticas de redução de danos como uma alternativa para lidar com o problema.

Segundo o médico, todas as grandes metrópoles têm algo equivalente à cracolândia, pois há uma população desfavorecida vivendo em situação de rua, incapaz de se estabelecer dentro do esquema da sociedade. No entanto, países mais desenvolvidos possuem mecanismos mais eficazes para lidar com essa questão, enquanto o Brasil é incompetente ao lidar com seus aspectos negativos.

Silveira ressalta que a droga é apenas uma sequência da exclusão social, não a causa dela. Ele afirma que, dentro da população excluída, nem todos são usuários de drogas. Na verdade, o álcool é a principal substância de abuso. Porém, é mais interessante culpar drogas ilícitas, como o crack, por situações de exclusão social. Estudos mostram que a maioria dos usuários de drogas, tanto legais quanto ilícitas, não se tornam dependentes sem fatores de risco adicionais, como doenças depressivas ou desfavorecimento social.

O médico critica as operações policiais na cracolândia, pois a quantidade de substâncias apreendidas é mínima e essa abordagem não combate efetivamente o tráfico. Ele afirma que a maioria das pessoas abordadas não é traficante, mas sim usuários ou intermediários dependentes. Silveira sugere um monitoramento internacional do tráfico e a melhoria da qualidade de vida da população excluída para enfrentar o problema.

Quanto ao tráfico, o médico destaca que é um problema mais amplo, não exclusivo da cracolândia. No entanto, a população dessa região é altamente vulnerável e predisposta a abusar de drogas devido à exclusão social e miséria em que vivem. Ele acredita que é dever do Estado proteger essas pessoas, ao invés de agir com truculência policial e médica, como ocorre nas internações involuntárias, que não possuem eficácia comprovada.

O termo “cracolândia” é usado para culpar o crack pela situação de miséria social, mas o álcool é igualmente problemático nesse contexto. Silveira afirma que o preço acessível do crack e do álcool contribui para o seu consumo na região. Em outros locais do mundo, existem modelos bem-sucedidos de abordagem, como a redução de danos, implementada em Vancouver, no Canadá.

Em resumo, a questão da cracolândia em São Paulo é complexa e exige abordagens mais eficazes baseadas na redução de danos e na melhoria da qualidade de vida da população excluída. A truculência policial e a falta de políticas efetivas de combate ao tráfico não solucionam o problema de forma adequada. É necessário olhar para as causas sociais subjacentes e adotar políticas que atendam às necessidades dessas pessoas em situação de vulnerabilidade.

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