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O Incra emite notificação aos ocupantes de terras do quilombo de Mãe Bernadete, visando regularizar a situação fundiária.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) divulgou nesta quarta-feira (23) um edital no Diário Oficial da União notificando os 44 proprietários ou ocupantes identificados dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares, local onde Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada na semana passada. A notificação desses proprietários estava pendente há praticamente seis anos no Incra.

De acordo com o órgão, após diversas tentativas infrutíferas de identificação e notificação de todos os ocupantes, proprietários ou não, presentes no território quilombola de Pitanga de Palmares, decidiu-se utilizar o edital como medida para notificar esses proprietários. Com isso, os ocupantes ou proprietários dessas áreas rurais terão um prazo de 90 dias para contestar a demarcação estabelecida pelo Incra.

A demora na titulação do território do Quilombo Pitanga dos Palmares tem sido apontada pelos quilombolas e suas lideranças locais como a causa da violência contra a comunidade, que já teve suas duas principais lideranças assassinadas a tiros em um intervalo de seis anos. Em 2017, o filho de Bernadete, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, foi morto a tiros enquanto levava seus filhos para a escola.

O Incra é o responsável pela titulação dos quilombos e, nesse caso específico, levou mais de 5 anos e 9 meses para tentar notificar os proprietários ou posseiros identificados dentro do território a ser demarcado. A fase de notificação é a próxima etapa após a publicação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) no Diário Oficial da União, o que aconteceu em novembro de 2017.

Através de sua assessoria, o Incra justificou que a demora na notificação dos imóveis presentes no Quilombo Pitanga dos Palmares ocorreu devido à complexa situação fundiária do local, especialmente por ser uma área na Região Metropolitana de Salvador. Além disso, a atuação dos servidores foi dificultada tanto pela pandemia quanto pelas restrições orçamentárias impostas pelo governo anterior.

Após o período de contestações, o órgão poderá solicitar a desapropriação das propriedades, desde que haja disponibilidade orçamentária. A indenização pela terra desapropriada será paga em dinheiro e pelo valor de mercado.

Após a conclusão do processo de desapropriação pelo Poder Judiciário e a transferência do domínio da terra para o Incra, o instituto poderá emitir um documento de titulação. No entanto, é importante ressaltar que o setor do Incra da Bahia responsável pela titulação de quilombos possui apenas sete servidores para lidar com mais de 380 processos de regularização fundiária e mais de 220 processos de desapropriação de imóveis rurais, o que dificulta o trabalho do órgão.

Além disso, a entidade de servidores destaca a falta de uma diretoria própria no Incra para lidar com a regularização dos quilombos e a ausência de um setor específico institucionalizado em suas superintendências regionais para tratar desse tema.

Segundo dados do último censo do IBGE, a Bahia é o estado com a maior população quilombola do país, contando com mais de 600 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Palmares.

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