O Twitter enfrenta desafios ao tentar efetivamente banir a pornografia infantil em sua plataforma.

Usuários do Twitter estão disseminando conteúdos de pornografia infantil, principalmente por meio de links para outras redes sociais de bate-papo, revelou uma investigação da Folha. A maior parte desses usuários criou suas contas há apenas alguns meses e segue poucas pessoas, o que, segundo especialistas, é uma estratégia para evitar serem rastreados.
Embora o Twitter tenha afirmado em várias ocasiões que está combatendo a exploração sexual infantil, a reportagem do jornal encontrou conteúdos desse tipo ao longo de um mês de investigação. Alguns desses posts são publicados com a hashtag em inglês para “child pornography” (pornografia infantil, em português) e são acompanhados de fotos de pratos de comida. Nos comentários dessas postagens, outros usuários compartilham links que redirecionam para grupos do Telegram e sites com imagens e vídeos de exploração sexual infantil.
Os usuários utilizam técnicas para burlar a segurança da plataforma, como misturar emojis ou números no meio das URLs, além de orientar os demais usuários sobre como acessar o conteúdo criminoso. Alguns posts contendo esse tipo de material permaneceram na plataforma por mais de dez dias e alcançaram quase 380 mil usuários.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, em maio de 2023, várias contas do Twitter que divulgavam esse tipo de conteúdo foram banidas. No entanto, ainda é possível encontrar pornografia infantil na rede social. Em janeiro deste ano, o Twitter informou que havia suspendido 404 mil contas envolvidas com exploração sexual infantil, representando um aumento de 112% nas suspensões desse tipo de material. O jornal The New York Times também revelou que o Twitter promovia materiais de pornografia infantil por meio de seu algoritmo de recomendação.
O Twitter afirma não tolerar nenhum tipo de exploração sexual infantil e encoraja os usuários a denunciar caso encontrem esse tipo de material. Além disso, a plataforma sugere que eles entrem em contato com a SaferNet, organização que recebe denúncias de crimes e violações de direitos humanos na internet. Entretanto, o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, afirmou que a entidade enfrenta dificuldades no contato com o Twitter, já que atualmente só há um funcionário disponível no México.
Tavares também ressaltou que um conselho que a SaferNet integrava foi dissolvido pouco antes de uma reunião, após seis anos de funcionamento. Ele destaca que esse conselho era um espaço de diálogo com a empresa, onde tendências e casos pudessem ser discutidos e possíveis soluções encontradas.
A publicação de nudez e pornografia sempre foi permitida no Twitter, o que tornou desafiador banir conteúdos relacionados à exploração sexual infantil, segundo Tavares. Ele afirma que a luta contra a pornografia infantil na plataforma é constante e exige um esforço conjunto entre as organizações de proteção à infância e as empresas de tecnologia.
O Twitter ainda não se pronunciou sobre a investigação da Folha.