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Barretos entrega título de cidadão honorário a Bolsonaro, gerando controvérsias, enquanto Festa do Peão avalia impacto político.

A Câmara de Barretos (a 423 km de São Paulo) aprovou a concessão do título de cidadão honorário da cidade a Jair Bolsonaro (PL), num movimento que gerou críticas da oposição e deverá servir para testar o “legado” do ex-presidente no mundo dos rodeios.

O setor, que já era afeito a Bolsonaro, abraçou de vez o político após ele ter anunciado no estádio de rodeios da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, em 2019, um decreto que flexibilizava a legislação sobre os eventos em todo o país e, na prática, dificultava ações judiciais de entidades de proteção animal contra os rodeios.

Bolsonaro não foi o primeiro político a acenar e visitar o principal evento do gênero no país, nem o único a ter tomado medidas que beneficiassem os rodeios, mas é o mais assíduo dos ex-presidentes a participar de Barretos, que realiza a festa deste ano até o dia 27, e o mais alinhado com a organização do evento. Esteve em todas as edições desde 2017.

No ano passado, durante a tentativa de reeleição, foi apresentado na arena como um misto de herói e salvador, andou a cavalo e sua presença motivou o locutor Cuiabano Lima, seu fiel seguidor, a comandar um Pai Nosso.

O decreto legislativo aprovado na Câmara é do vereador Paulo Correa (PL), que alegou que o currículo de Bolsonaro, por si só, já justificaria a honraria e que “nada mais justo que o diploma de cidadania, por ser motivo de orgulho, de toda a sociedade barretense”.

“A entrega da homenagem é um reconhecimento aos trabalhos feitos por Bolsonaro a Barretos, ao agronegócio, ao estado e ao país”, escreveu Correa numa rede social, num texto em que chamou Bolsonaro de “eterno presidente”.

Aliados do ex-presidente na cidade querem que ele receba o título na próxima sexta-feira (25), dia do aniversário de Barretos e durante a Festa do Peão, mas a data não está oficializada.

Tratativas com os Independentes, associação que organiza a festa, estão em andamento desde a aprovação do projeto na Câmara.

Bolsonaro tomou duas medidas em relação aos rodeios. A mais importante para o setor foi o decreto, que definiu que compete ao Ministério da Agricultura avaliar os protocolos de bem-estar animal elaborados pelas organizadoras de rodeios. As associações que fazem festas do gênero viram a medida como positiva por limitar, mas não eliminar, ações judiciais contra a realização dos eventos.

“Esse momento em que tantos criticam as festas de peões ou as vaquejadas quero dizer que, com muito orgulho, estou com vocês. Para nós, não existe o politicamente correto, faremos o que tem de ser feito”, disse Bolsonaro ao anunciar a flexibilização na arena de Barretos.

O ex-presidente também instituiu o Dia Nacional do Rodeio, a ser celebrado em 4 de outubro, data em que se comemora o Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. A medida foi criticada por associações de proteção.

Antes de Bolsonaro, outros governantes já atuaram favoravelmente aos rodeios. Em 2001, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sancionou lei que transformou o peão de rodeio em atleta, com garantia de seguro de saúde e previdência social e, no ano seguinte, assinou lei que regulamentou rodeios e estabeleceu normas sanitárias para proteger os animais.

Dilma Rousseff (PT), em 2011, sancionou uma lei que deu a Barretos o título de “capital nacional do rodeio”. O projeto de lei tinha sido apresentado dois anos antes pela então deputada federal Luciana Costa, que é da cidade, e aprovado pelo Congresso.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é visto com ressalvas por membros da organização do evento. O petista obteve 37,2% dos votos válidos no segundo na cidade, ante 62,8% de Bolsonaro.

A concessão do título a Bolsonaro gerou atrito político na cidade. O PSOL, por exemplo, publicou comunicado repudiando a aprovação da honraria. “É motivo de profunda tristeza constatar que os 16 vereadores presentes votaram a favor da escabrosa proposta”, diz a nota.

O texto cita ainda que, em memória de familiares e amigos mortos durante a pandemia não será esquecida “a política genocida de Bolsonaro que, deliberadamente, provocou o atraso nas vacinas e incentivou o negacionismo científico, espalhando pânico entre nossos familiares“.

Presidente de Os Independentes, Hussein Gemha Júnior disse à Folha que soube da entrega do título a Bolsonaro por meio dos jornais e que a associação tem por hábito convidar apenas governadores e presidentes no exercício do cargo.

Ele afirmou que Lula foi convidado, mas não confirmou presença, e que há uma pré-confirmação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no dia 25 –justamente a data em que aliados querem que Bolsonaro receba a honraria.

Outros políticos são aguardados, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), que é sócio honorário da associação.

O secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab (PSD), participou da abertura da festa na quinta (17), e foi saudado durante a primeira noite de montarias.

Segundo o presidente, que está em seu quarto mandato, a presença de políticos de várias siglas mostra a força da festa. “Mostra cada vez mais Barretos unida, né? Não só na política local, mas na política nacional.”

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