A criação de uma autoridade climática é postergada devido às derrotas sofridas por Lula e Marina no Congresso Nacional.

No governo do presidente Lula, a criação de uma autoridade climática prometida durante a campanha ainda não saiu do papel devido a derrotas sofridas pelo governo e ao esvaziamento da sua agenda ambiental pelo Congresso.
Segundo membros da equipe ambiental, a previsão inicial era que o órgão fosse anunciado em janeiro, mas isso não ocorreu. Em março, a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a criação da autoridade seria formalizada nesse período, juntamente com a criação de um Conselho Nacional sobre Mudança do Clima.
Porém, desde então, o governo enfrentou problemas e derrotas na sua política ambiental, como resultado das pressões de ruralistas e do centrão, que reduziram as atribuições dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, e avançaram com projetos como o marco temporal.
A ministra Marina Silva é vista como um obstáculo para a implementação de políticas de interesse do agronegócio, tendo em vista a influência da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso. Com cerca de 300 deputados, essa frente é uma das maiores forças da Casa.
Devido às dificuldades e mudanças no cenário político, a criação da autoridade climática não avançou. Em entrevista à Folha, Marina Silva afirmou que a entidade é apenas uma das prioridades do governo, junto com outras estruturas como os Ministérios dos Povos Indígenas, dos Direitos Humanos e da Cultura.
O nome mais cotado para assumir a autoridade climática é o engenheiro florestal Tasso Azevedo, cofundador e coordenador do MapBiomas. No entanto, aliados de Marina afirmam que o projeto de estruturação do órgão só será enviado ao Congresso quando houver garantia de que será aprovado sem mudanças significativas.
Alguns defendem que Marina estabeleça diálogo com a Frente Parlamentar da Agropecuária para diminuir as resistências do setor. Ela já participou de eventos com ruralistas, destacando medidas de incentivo a práticas ambientais no agronegócio.
A autoridade climática foi proposta por Marina a Lula durante a campanha, após uma reconciliação entre os dois. Marina foi ministra nos primeiros governos do presidente, mas pediu demissão em 2008 após desavenças. Durante a campanha presidencial de 2014, ela concorreu contra Dilma Rousseff e foi alvo de uma campanha agressiva do PT.
A proposta da autoridade climática gerou divergências durante a transição de governo. Parte do grupo ligado à ex-ministra Izabella Teixeira, do PT, era contra a forma como a entidade foi desenhada por Marina.
Por enquanto, não foi apresentada formalmente à Casa Civil a estrutura da autoridade climática. Internamente, o Ministério do Meio Ambiente trabalha com a ideia de que ela funcione como uma agência para direcionar políticas da área, com papel semelhante ao do IBGE na compilação de dados para subsidiar decisões em outros setores.
Aliados de Marina afirmam que a entidade não deve interferir no dia a dia dos ministérios, mas fazer recomendações e acompanhar políticas climáticas, como o desenvolvimento da agenda ESG. O grau de engessamento ou liberdade do órgão dependerá do Congresso, o que reforça a necessidade de consolidar a base aliada antes da análise dos parlamentares.