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Deseja conhecer a data do seu derradeiro suspiro?

A vida é uma jornada curta, mas cheia de significado. Essa é a reflexão de uma mulher que reconhece a brevidade da existência e se sente grata por ter vivido os últimos dois anos fazendo o que a fazia feliz. Essa percepção de que a morte está mais próxima do que ela esperava não a assusta, pois ela não tem arrependimentos, nada que gostaria de ter feito diferente. Esse é o ponto de partida para uma história que tem suas raízes na ancestralidade portuguesa da protagonista.

Embora não tenha conhecido seus bisavôs e bisavós, ela cresceu ouvindo sobre suas origens portuguesas, muitas vezes em tom de deboche. Apesar de sempre ter sentido um interesse em conhecer o Algarve, região de praias que chamava a sua atenção, Portugal não era um destino que a inspirava muito. No entanto, essa visão foi mudando aos poucos. Durante sua banca de doutorado, um professor da Universidade de Coimbra destacou que o português, além do inglês, é a única língua falada em todos os continentes do mundo. Essa ideia de que seu trabalho poderia ser lido por pessoas tão diferentes fez com que ela enxergasse Portugal com outros olhos.

No último mês, ela publicou o livro mais importante de sua carreira. A obra tem como objetivo compartilhar as reflexões e pesquisas sobre a morte e o fim da vida, resultado de conversas com quase 50 pacientes com câncer avançado tanto no Brasil quanto na Alemanha. O primeiro lançamento ocorreu pouco antes de sua viagem de férias com a família para Portugal. Decidiu levar alguns exemplares do livro na esperança de encontrar pessoas interessadas.

Entretanto, a barreira do idioma se mostrou desafiadora para a escritora. Porém, durante sua estadia em Lisboa, ela foi atraída pela música que vinha de uma livraria-bar. Apaixonada por livros e bibliotecas desde a sua infância, ela não poderia deixar de visitar o local. Ao se deparar com a decoração acolhedora, composta por um piano e livros, ela se encantou. Enquanto apreciava a música, ela conversou com o vocalista da banda, que logo confundiu sua filha com uma brasileira. Esse pequeno acontecimento a fez rir e despertou o seu interesse pela literatura local.

Mesmo a princípio acreditando que suas obras não se encaixariam na curadoria da livraria-bar, ela acabou encontrando um livro que despertou seu interesse. O título era “Uma mulher com cancro, um psicólogo e uma virgem entram num Death Café”, escrito por Lara Pato. A autora aborda questões sobre a morte e a importância de valorizar cada momento de vida, mesmo diante de uma doença terminal. Essa obra fez a protagonista refletir sobre os limites da escrita e sobre a necessidade de compartilhar sentimentos e pensamentos enquanto ainda há tempo.

No entanto, algumas partes do livro de Lara incomodaram a escritora. Ela questionou se uma pessoa com doença terminal tem o direito de fazer todos os desabafos que quiser. A escrita honesta de Lara mexeu com a protagonista e a fez refletir sobre a própria escrita. Ela se questiona até onde vai o direito de contar histórias que não dizem apenas respeito a si mesma. Acredita que a literatura perde muito se as pessoas não puderem falar sobre si mesmas e sobre seus relacionamentos.

O livro de Lara, assim como o da protagonista, traz à tona a reflexão sobre a brevidade da vida e a importância de aproveitá-la intensamente. Lara fala abertamente sobre sua doença e sobre as situações difíceis pelas quais passou. Mesmo diante das adversidades, ela busca encontrar felicidade e valorizar cada momento. Apesar das expectativas em relação ao futuro, ela aprende a viver o presente e a apreciar as pequenas coisas da vida.

A protagonista se identifica com a história de Lara e percebe que, mesmo em momentos difíceis, é possível encontrar beleza e significado na existência. Essa conexão entre as duas escritoras mostra a universalidade das experiências humanas e a importância de compartilhar essas histórias.

Lara demonstra em seu livro o desejo de saber a data de sua própria morte, como forma de aproveitar cada dia ao máximo. Ela reconhece que, mesmo diante de uma expectativa de vida reduzida, há tempo suficiente para realizar os sonhos e agradecer por cada momento de vida.

O livro de Lara, lançado há apenas quatro meses, revela detalhes e intimidades que dificilmente alguém teria coragem de compartilhar enquanto ainda estivesse vivo. A autora fala sobre situações desconfortáveis e pessoais, mostrando uma honestidade impressionante. Apesar de nem tudo estar relacionado diretamente à temática do livro, essas histórias revelam a necessidade de compartilhar as experiências e os sentimentos antes que seja tarde demais.

A obra de Lara faz a protagonista refletir sobre os limites da escrita e sobre o que é realmente importante compartilhar. Ela percebe que cada pessoa tem o direito de contar a própria história, mesmo que isso envolva aspectos pessoais desconfortáveis. A escrita de Lara, cheia de experiências diversas e detalhes da sua própria vida, aproxima o leitor e mostra que todos têm algo a dizer.

A protagonista finaliza sua reflexão questionando quem gostaria de saber a data de sua própria morte. Essa pergunta nos faz refletir sobre a importância de viver a vida intensamente, independentemente do tempo que nos resta. O livro de Lara é um exemplo de como é necessário aproveitar cada momento e apreciar as pequenas coisas que dão significado à nossa existência. A escritora mostra que é possível encontrar felicidade mesmo diante das adversidades, e que a honestidade e a aceitação são fundamentais para enfrentar as dificuldades.

A história das duas escritoras, embora com experiências diferentes, nos faz refletir sobre a brevidade da vida e a importância de viver cada dia com gratidão. Elas nos lembram que, mesmo diante da morte iminente, podemos encontrar significado e beleza em cada momento. Que seus livros sejam uma inspiração para todos nós, para que possamos aproveitar cada instante e valorizar a vida em sua plenitude.

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