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Pesquisadora de Harvard aponta contradição na abordagem de segurança pública pela esquerda. Desafio em encontrar soluções eficazes persiste.

A violência policial no Brasil é um problema muito conhecido e discutido, especialmente nos últimos dias após a operação mais letal da polícia de São Paulo desde o Carandiru. Yanilda González, pesquisadora da Universidade Harvard, tem estudado esse problema há mais de uma década nos Estados Unidos e na América Latina. Ela esteve presente em um protesto na semana passada na Baixada Santista, onde testemunhou a frustração dos jovens e a dor das mães que têm sido vítimas da violência do Estado.

González aponta que as polícias, ao longo do tempo, acumularam autonomia e poder, mesmo em democracias, dificultando assim tentativas de reforma e controle de suas atividades. Ela também criticou as declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do secretário de segurança, Guilherme Derrite, sobre a operação, destacando a politização imediata das mortes.

Durante sua estadia na Baixada Santista, González participou de atos de repúdio e reuniões com familiares, movimentos sociais e autoridades locais. Ela relata que houve indicação de abusos por parte da polícia, ameaças contra os familiares e falta de justificativa para o uso de força letal. González também destaca a importância de uma resposta adequada do Estado diante desses casos, sempre dentro dos parâmetros da lei, buscando investigar, processar e evitar mais violência.

A pesquisadora também faz uma comparação com outros países, como os Estados Unidos, onde houve protestos em todo o país após a morte de George Floyd. Ela destaca que, nas Américas, há um certo “apetite” político e social pela violência policial, com a ideia de que o Estado deve agir de forma contundente, mesmo que fora da lei. González aponta que o racismo, a desigualdade e o território são marcadores comuns da violência policial em toda a região.

Em relação às mudanças necessárias, González destaca a importância de reduzir o poder estrutural da polícia, limitar sua atuação em casos que não estão relacionados ao crime e aumentar o controle externo, envolvendo o Ministério Público, o Legislativo e a sociedade. Ela também menciona a utilização de câmeras de monitoramento, como nos Estados Unidos, como uma forma de reduzir a letalidade policial.

Diante dessa escalada de violência em vários pontos do país, é fundamental dar espaço às vozes das mães que perderam seus filhos pelas mãos do Estado. Como uma delas disse a González: quando você perde um filho por qualquer outro motivo, é possível aceitar, mas quando é pelo Estado, é impossível, porque você pagou pela morte do seu filho.

Yanilda González, professora de políticas públicas da Harvard Kennedy School e autora do livro “Polícia autoritária na América Latina”, continua sua pesquisa sobre violência policial, segurança pública e reforma de polícias, buscando soluções para combater esse grave problema no Brasil e em toda a região latino-americana.

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