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Corpo da pequena Eloah é sepultado no Rio de Janeiro enquanto a família clama por justiça.

O corpo da menina Eloah Passos da Silva, de apenas 5 anos, foi sepultado na tarde de segunda-feira (14) no Cemitério da Cacuia, localizado na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro. Eloah foi vítima de um tiro no peito no último sábado (12), quando brincava em seu quarto no Morro do Dendê, também na zona norte da cidade. O disparo atingiu a criança através da janela, e ela foi levada para o hospital, mas já chegou sem vida.
Imagem do corpo da menina Eloah.
Durante o velório, a avó materna de Eloah, Simone Santos, pediu por justiça e relembrou a cena em que viu a neta nos braços da mãe. “Sou vizinha da minha filha. Ouvi os tiros e os gritos, e saí correndo de casa. Vi minha filha carregando a criança com o tiro no peito. Um tiro para matar uma criança indefesa”, lamentou Simone.
Eloah foi atingida durante um conflito causado pela chegada de policiais militares para dispersar uma manifestação de moradores em protesto contra a morte de Wendel Eduardo, de 17 anos, ocorrida mais cedo em uma ação da Polícia Militar (PM) no Morro do Dendê. Como consequência dessa tragédia, o tenente-coronel Fábio Batista Cardoso, que comandava o 17º Batalhão da PM, localizado na Ilha do Governador, foi afastado de seu cargo.
Durante o trajeto até o local de sepultamento, moradores do Morro do Dendê soltaram balões brancos, fogos de artifício e aplaudiram enquanto o caixão passava. Crianças carregavam faixas e cartazes com os dizeres “Eloah vive”.
O pai de Eloah, Gilgres da Silva, carregou sozinho o caixão da filha do interior do templo até o local do enterro. Emocionado, ele declarou: “Eu disse para minha filha que ficaria com ela até o final, e eu cumpri. Estou com você para sempre. Por onde ela passava, aquela garota deixava um amor inesquecível”. Gilgres recebeu da ONG Rio de Paz uma Bandeira do Brasil com 14 furos, representando as 14 crianças e adolescentes mortos por balas perdidas em quase dois anos.
Antônio Carlos Costa, fundador da Rio de Paz, aproveitou o momento do velório para destacar que a família de Eloah deseja ser recebida pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, para cobrar a implementação de uma política de segurança pública mais eficaz no estado. “Se isso tivesse acontecido na Avenida Vieira Souto, na zona sul, as pessoas já teriam tomado alguma atitude. Até quando vamos tolerar essa política de extermínio? Somente nos últimos 20 meses, entre janeiro de 2022 e agosto de 2023, 14 crianças perderam a vida devido a balas perdidas no Rio de Janeiro. A maioria dessas tragédias ocorreu como resultado de operações policiais”, questionou Costa.

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