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Não há como eludir o fato de que o capitão Bolsonaro era o comandante de toda essa farra. Assim, espera-se que o relatório da CPMI peça o indiciamento do capitão, se não como autor intelectual, como o principal beneficiário do roubo.
Militares emporcalhados negociando com dinheiro público, diamantes, relógios, tudo na certeza da impunidade, pois tinham certeza de que ganhariam a eleição, se não no voto, no golpe de Estado.
Dadas as circunstâncias, não tem como livrar o Exército dos maus feitos. E são muitos, vão desde a cloroquina vendida durante a pandemia até as jóias da coroa saudita e ridículos como vender e recomprar um relógio nos Estados Unidos. Além do presente das Arábias havia um pacote presenteado pelo reino do Bahrein contendo escultura e relógio Patek Philippe.
No dia 11 de agosto, a Polícia Federal desencadeou a Operação Lucas 12:2 para apurar a venda no exterior de bens pertencentes à União. Oficialmente, visa apurar “desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras a Bolsonaro, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito”.
O nome da operação se refere a versículo bíblico que reza: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa será proclamado dos telhados”
É de imaginar que o comando das forças armadas esteja no mínimo incomodado.
Se trata de família tradicional de militares. O general do Exército Mauro Cesar Lourena Cid, o rosto aparece refletido numa caixa contendo escultura recebida de presente e que colocou à venda. É pai do ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid; outro que aparece no imbróglio, o segundo tenente Osmar Crivelatti, braço direito do ajudante de ordens.
O general Mauro Cid foi do alto comando ao lado dos generais Villas Bôas e Hamilton Mourão e colocou o filho para ser ajudante de ordens do presidente. Essa função é sempre exercida por oficial designado pelo estado maior da força. O general se retirou em 2019 e estava de chefe na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) em Miami.
Além do tenente coronel Cid, atuava junto com o ajudante de ordens o sargento Luis Marco Reis, que com um salário de 13 mil reais movimentou 3,34 milhões entre 1 de fevereiro de 2022 e maio deste ano. Juntos, os dois militares movimentaram 7 milhões, segundo o Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf) informado à CPMI do 8 de janeiro.
Oferecido em leilão pelos militares com intenção de arrecadar 120 mil dólares, um conjunto continha relógio, abotoaduras, anel, caneta e um rosário árabe de ouro cravejado de diamantes, joias da marca suíça Chopard.
Tudo isso foi levado no avião presidencial que levou o presidente para os Estados Unidos, furtando-se de comparecer à transmissão de posse ao novo presidente.
Em nota publicada, a defesa de Bolsonaro negou ter participado em desvios de quaisquer bens públicos. A PF quer ouvir o capitão e sua esposa, mas a ordem tem que vir de Alexandre Moraes, do STF, pois ambos têm direito a foro especial. Michele tem o episódio de caixa de joias esquecida sob a cama em que dormiu na residência do embaixador do Brasil em Londres, e seu irmão está também envolvido em venda de presentes.
Como parte do produto do furto foi negociado nos Estados Unidos, a PF está a solicitar colaboração com o FBI.
São crimes graves que o casal terá que esclarecer. O que importa é que a PF está investigando com aval do STF. Como qualificou o ministro Flávio Dino, da Justiça: “acima de tudo e de todos estava o vil metal – Mamom – e não o Deus ou o Brasil”. Temos que inverter essa lógica perversa colocando a soberania nacional como o bem supremo a ser construído para a libertação nacional.