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Manual de Arqueologia Bíblica Thomas Nelson – Uma Análise Crítica
Os leitores mais velhos talvez se lembrem de um personagem da Escolinha do Professor Raimundo cujo bordão era “tava indo tão bem!”. O aluno em questão começava acertando tudo, só para se sair com uma resposta estapafúrdia no final. Bem, é mais ou menos essa a sensação de ler o “Manual de Arqueologia Bíblica Thomas Nelson”, assinado por Randall Price e Wayne House, caso o aluno desse a resposta doida vezes e vezes seguidas, entremeando com informações interessantes e corretas.
É uma pena, porque, numa leitura inicial, o livro tem muito a oferecer, a começar pela pesquisa iconográfica caprichadíssima, que realmente traz à tona a cultura material do mundo bíblico da Idade do Bronze ao período romano, seja nas grandes construções, seja no cotidiano. A obra também faz resumos bastante claros dos resultados de escavações arqueológicas nos principais sítios da região hoje englobada por Israel, Palestina, Jordânia e adjacências.
No entanto, ambos os autores têm formação em teologia e lecionam em instituições de ensino evangélicas conservadoras dos Estados Unidos. Isso não necessariamente seria um problema — se eles não se apegassem à tentativa de harmonizar os dados arqueológicos com uma interpretação praticamente literalista do texto bíblico.
Os autores defendem, por exemplo, a ideia de que o livro do Gênesis foi escrito pelo profeta Moisés, a historicidade dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, bem como a ocorrência histórica do Êxodo basicamente nos moldes descritos pelo texto bíblico.
Nenhuma dessas interpretações é aceita por arqueólogos e historiadores em instituições não confessionais hoje, vale dizer. Os leitores do livro, portanto, precisam ter em mente que as interpretações sobre a relação dos dados arqueológicos com o texto bíblico têm como primazia a crença religiosa.