Na presença de Swami Ramakrishnananda Puri, cada palavra emerge com simplicidade e profundidade. Ele é um dos discípulos mais próximos e dedicados de Amma, líder espiritual indiana reconhecida mundialmente por seus milagres e abraço acolhedor. Em uma trajetória que começou com um encontro transformador em 1978, Swami Ramakrishnananda Puri deixou sua vida no setor bancário para seguir Amma, dedicando-se ao serviço e à difusão de seu ensinamento de amor incondicional e compaixão. Desde então, ele a acompanha em turnês mundiais, além de ministrar aulas, retiros e atividades humanitárias em nome do ashram. Nesta entrevista concedida exclusivamente para a colunista do DIÁRIO DO RIO, Rosane Ventura, ele compartilha suas percepções sobre a busca espiritual, a importância do autoconhecimento e o poder transformador da meditação e do serviço voluntário.
Entrevista com Swami Ramakrishnananda Puri
1. Como foi sua jornada para se tornar discípulo da mestra Amma Bhagawan, e o que lhe motivou a seguir este caminho?
“Quando conheci Amma, trabalhava em um banco. O trabalho era bom, mas as condições não eram satisfatórias. Certa vez, ouvi dizer que uma pessoa divina visitaria a vila, e pensei: ‘Se ela realmente tem poderes divinos, poderá me ajudar!’ Quando a vi pela primeira vez, não consegui perguntar nada, pensar em nada. Apenas chorava. Ela me abraçou, como fazia com todos que vinham até ela, um gesto que chamamos de Dharshan na Índia, o encontro com o mestre. Naquele momento, senti uma grande paz e uma conexão que nunca havia experimentado antes.
Mais tarde naquele dia, vi algo que mudou minha vida: Amma recebeu uma pessoa com lepra, uma doença contagiosa. Sem hesitar, ela tocou a pessoa e começou a chupar as feridas, sem qualquer proteção, como luvas. Todos ao redor estavam apreensivos, mas ela demonstrou uma compaixão tão profunda que fiquei maravilhado. Eu só queria estar perto dela, sentia que aquele era o lugar certo para mim.
Pouco tempo depois, comecei a frequentar o ashram enquanto ainda trabalhava no banco. Éramos um grupo pequeno de nove pessoas, e Amma estava sempre ao nosso lado, liderando as atividades e inspirando-nos pelo exemplo. A vida no ashram era cheia de amor e dedicação, e isso me fez decidir que queria dedicar minha vida a ela. Hoje, o que era um pequeno grupo cresceu para uma comunidade de 3.500 pessoas. Ver a Amma curando aquele leproso foi a experiência que realmente transformou minha vida.”
2. Qual é o papel do autoconhecimento na busca espiritual? Como podemos transformar nossas vidas diárias?
“Um dos maiores equívocos é pensar que somos apenas o corpo, a mente e o intelecto. Nossa essência, o Atman, é a Consciência pura, o que realmente somos. O corpo é passageiro, mas o SER é eterno. Um verdadeiro mestre ensina que somos o SER, e essa energia que nos compõe manifesta-se de diferentes formas. Quando você descobre essa verdade, as críticas e os desafios tornam-se insignificantes. Reagir ao mundo é uma prática longa, mas quando se identifica com o SER, a paz de espírito cresce e as opiniões externas perdem sua força.
Lembrar-se de ‘Eu sou o SER’ em todas as situações é um processo que leva tempo. Essa prática torna-se um refúgio, impedindo que as opiniões e humores dos outros nos afetem. Quem realiza o SER fica imperturbável, mais paciente e resiliente, e isso reflete-se em um estado de paz interior. Esse conhecimento profundo é um caminho para encontrar a verdadeira tranquilidade.”
3. Como práticas ancestrais como meditação e serviço voluntário (seva) podem ajudar a lidar com problemas como ansiedade e depressão nos dias atuais?
“A meditação purifica a mente e permite observar seus próprios pensamentos e respiração. Ao focar em um ponto, você descansa a mente e cria espaço para a consciência. Como Amma diz, ‘Não há distância entre o pensamento raivoso e a ação’. Quando a meditação cria esse espaço, você pode decidir como agir e não ser apenas levado pela emoção. A raiva, por exemplo, é como uma escuridão que cega; a prática da meditação ilumina essa área, dando a chance de decidir com calma.
Por meio da meditação, aprendemos a nos relaxar e enxergar as situações com clareza. Sentar-se perto da natureza, ouvindo o som das ondas ou contemplando o céu, são práticas simples que ajudam a cultivar a paz. Esse relaxamento e consciência nos tornam mais fortes diante das dificuldades e mais compassivos com as pessoas ao nosso redor, porque estamos menos vulneráveis aos altos e baixos do dia a dia. Esse estado de calma permite encarar os desafios com sabedoria e serenidade.”
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