CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária vê questão comportamental como problema a ser observado. Paulo Guimarães entende que, com a pandemia, muitos paulistanos abandonaram o transporte público e migraram para as motos. Além disso, diz que a sociedade está mais violenta e isso reflete na fatalidade do trânsito: “a questão comportamental precede os sinistros”, completa.
O motociclista é o grande desafio das políticas públicas, e a culpa pode não ser só do delivery.
Paulo Guimarães, CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária
Número de motos em circulação em São Paulo aumentou em 50% nos últimos 9 anos. Segundo a Prefeitura, a frota de motocicletas em São Paulo passou de 1 milhão para 1,5 milhão desde 2015. “A pandemia também trouxe mudanças de comportamento que ampliaram o número de motos em circulação e a motivação dos deslocamentos”, completa o órgão.
Em paralelo, delivery cresceu desde a pandemia. Uma pesquisa realizada pela VR Benefícios com o Instituto Locomotiva mostra que já em 2021, 89% dos restaurantes operava também no delivery, aumento de 29% sobre níveis pré-pandêmicos.
Presidente de sindicato de entregadores diz que exploração de trabalhadores aumenta número de mortes. Gilberto Almeida dos Santos, presidente do Sindimoto, afirmou que o despreparo dos motoqueiros para realizar entregas e a pressão criada pelas plataformas sobre os trabalhadores interferiu diretamente no aumento de óbitos na cidade de São Paulo. Ele defende que o trabalho do entregador é de alto risco, e que os aplicativos de entrega exploram uma classe fragilizada em prol do lucro.
Contraponto: associação diz que apenas 2,3% dos motociclistas trabalham com aplicativos. Dados fornecidos com exclusividade ao UOL pela Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) apontam que em todo o Brasil, somente 800 mil motociclistas dos 34,2 milhões são entregadores de aplicativo. “Diante do baixo percentual de participação dos motociclistas por aplicativos na frota nacional, é equivocado atribuir a este segmento a causalidade pelo eventual aumento de acidentes de trânsito”, escreve o grupo.