Cartaz de “Ainda Estamos Aqui”: Fernanda Torres se destaca em interpretação marcante no filme sobre a ditadura militar no Brasil.

Resenha do filme “Ainda Estamos Aqui”

O cartaz de divulgação do filme “Ainda Estamos Aqui” revela um retrato marcante da personagem interpretada por Fernanda Torres. Enquanto Selton Mello, no papel de Rubens Paiva, sorri para a câmera ao lado de duas crianças adoráveis, a atriz encarna Eunice Paiva com um olhar alerta e profundo, direcionado para a paisagem que é invadida pelos tanques que passam pela orla do Rio de Janeiro na década de 1970.

O enredo do filme se divide entre a atmosfera idílica da família, retratada sob a perspectiva da infância do escritor Marcelo Rubens Paiva, e a presença do mal iminente, já prenunciado desde a primeira cena. O filme narra a brutalidade do assassinato de Rubens Paiva pelo governo brasileiro, culminando com o possível descarte de seu corpo no mar.

“Ainda Estamos Aqui” destaca-se por diversas qualidades, desde a atuação das crianças e dos jovens até a direção sensível de Walter Salles. No entanto, é a interpretação de Fernanda Torres que se destaca como um dos pontos altos do filme. A atriz, com sua força no olhar e domínio do corpo, dá vida à personagem de Eunice Paiva de forma comovente e intensa.

Em uma cena memorável de interrogatório, Fernanda Torres demonstra toda a complexidade da personagem, que busca proteger sua família em meio às adversidades da ditadura. A atuação da atriz evidencia o autocontrole de Eunice, que enfrenta os perigos iminentes sem ceder à emoção, deixando que o público experiencie seu sofrimento contido de forma visceral.

O filme aborda não apenas a história individual de Eunice Paiva, mas também traça um paralelo com a realidade das mulheres brasileiras, especialmente as negras e pobres, que enfrentam diariamente a opressão e o descaso do Estado. Eunice, representante da classe média alta do Rio de Janeiro, desafia as convenções da época ao enfrentar a ditadura com coragem e resiliência.

A obra ressalta a importância da democracia e alerta para os perigos do autoritarismo, especialmente diante dos acontecimentos atuais que evidenciam o ressurgimento de ideias antidemocráticas. “Ainda Estamos Aqui” nos convida a refletir sobre a trajetória do Brasil e a necessidade de resistir aos discursos autoritários que ameaçam nossa liberdade.

Em suma, o filme nos deixa com o amargo sabor de constatar que, mesmo após 60 anos, ainda precisamos lutar contra o autoritarismo e defender os valores democráticos. Estamos aqui, mas também estão presentes aqueles que buscam calar a voz da liberdade e da justiça.

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