Facção Povo de Israel atua em presídios do RJ, semelhante ao PCC
O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor dos Santos, fez declarações importantes sobre a facção Povo de Israel, que tem atuação dentro dos presídios do estado. Segundo ele, a trajetória dessa facção apresenta semelhanças com o PCC (Primeiro Comando da Capital), grupo originado em São Paulo.
Nesta terça-feira (22), a Polícia Civil e a Secretaria de Administração Penitenciária realizaram uma operação para conter o avanço do Povo de Israel.
De acordo com as investigações, a facção surgiu em 2004 no presídio Ary Franco, em Água Santa, zona norte do Rio. O Povo de Israel recruta detentos considerados neutros, ou seja, que não possuem ligação com outras facções presentes no estado, como o Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Terceiro Comando Puro.
Atualmente, estima-se que existam 18 mil presos vinculados ao Povo de Israel, o que representa 42% do total da população carcerária do estado, incluindo diferentes regimes prisionais, como fechado e semiaberto.
Além disso, a facção atua em 13 unidades prisionais do Rio de Janeiro, como o complexo de Gericinó em Bangu, a cadeia pública Patrícia Acioli em São Gonçalo, o presídio Romeiro Neto em Magé e o presídio Milton Dias Moreira em Japeri.
A secretária de Administração Penitenciária, Maria Rosa Lo Duca, destacou durante uma coletiva de imprensa que a facção Povo de Israel estava muito organizada nas unidades prisionais quando assumiram a gestão em 2022.
Investigadores confirmam que não há ligação entre o Povo de Israel e o complexo de Israel, conjunto de favelas na zona norte do Rio dominado pelo traficante autointitulado evangélico Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão. Também não há associação com igrejas localizadas dentro dos presídios.
A facção obtém recursos através de golpes de falso sequestro, utilizando celulares que entram ilegalmente nas cadeias. Desde 2023, a Secretaria de Administração Penitenciária já apreendeu 6.921 aparelhos.
Para combater essa prática, a pasta pretende concluir, até novembro, uma licitação para a compra de bloqueadores de celular, visando impedir o uso indevido dos aparelhos dentro das prisões.
Os membros do Povo de Israel também estão envolvidos no tráfico de drogas, facilitando a entrada de entorpecentes nas cadeias.
Os ganhos obtidos pela facção são divididos de forma específica: 30% para o “empresário” dono do celular, 30% para o “ladrão” responsável pelo falso sequestro, 30% para o “laranja” que participa da lavagem de dinheiro e 10% para um fundo coletivo. Esse modelo de divisão de recursos é inédito nos presídios do Rio de Janeiro, conforme apontam os investigadores.
Victor dos Santos ressaltou a seriedade da situação, comparando a ascensão do Povo de Israel dentro das prisões com o surgimento do PCC há muitos anos. A segurança pública está atenta a essas questões.
Nesta operação, a Polícia Civil cumpriu 44 mandados de busca e apreensão, bloqueou contas correntes de 84 investigados e afastou cinco policiais penais suspeitos de receber dinheiro da facção. Também houve ações dentro dos presídios.
Dois policiais penais estão enfrentando processos administrativos da Corregedoria da Seap, sendo que um deles está detido. Entre 2022 e 2024, 50 policiais penais foram presos por suspeita de envolvimento em atividades ilícitas, como facilitação da entrada de produtos proibidos, e 13 deles foram demitidos.
Os integrantes do Povo de Israel são acusados de lavagem de dinheiro por meio de uma joalheria em Copacabana, uma loja de frutas e verduras no Ceasa em São Gonçalo e uma casa lotérica no Espírito Santo. Também houve apreensões em Irajá, na capital fluminense, e em diversos municípios do interior do estado.