Médico e escritor propõe tratamento similar a cigarros para alimentos ultraprocessados: entenda a polêmica e os impactos na saúde pública.

Entrevista com o médico e escritor Chris van Tulleken

O médico e escritor Chris van Tulleken está causando polêmica ao defender que alimentos ultraprocessados recebam o mesmo tratamento dos cigarros em prol da saúde pública.

Van Tulleken, que é infectologista do Hospital de Doenças Tropicais de Londres e professor da Universidade College London no Reino Unido, lançou um livro chamado “Gente Ultraprocessada – Por que Comemos Coisas que Não São Comida, e Por Que Não Conseguimos Parar de Comê-las”, recentemente traduzido para o português.

O livro, que se tornou um best-seller, discute os malefícios dos alimentos ultraprocessados e a influência das grandes redes alimentícias na dieta da população.

O conceito de ultraprocessados foi desenvolvido pelo epidemiologista brasileiro Carlos Monteiro, que assina o prefácio do livro. Van Tulleken conta que inicialmente duvidou desse conceito, mas decidiu testar em si mesmo ao radicalizar sua dieta e passar a consumir apenas alimentos ultraprocessados.

Em uma entrevista à BBC News Brasil, o médico revelou que a experiência teve impactos significativos em sua saúde e bem-estar, levando-o a repensar a forma como encara a alimentação.

Van Tulleken faz duras críticas à indústria alimentícia, comparando-a à indústria do tabaco e defendendo a necessidade de ações mais enérgicas por parte dos governos para regulamentar o consumo de ultraprocessados.

O médico destaca a importância de conscientizar a população sobre os riscos desses alimentos e propõe medidas como alertas nas embalagens, taxação agressiva, proibição de propaganda e restrição de venda para crianças.

Além disso, ele ressalta a necessidade de combater os conflitos de interesse entre a indústria alimentícia e as instituições de saúde e pesquisa, apontando casos de financiamento por empresas como Coca-Cola e Nestlé.

Van Tulleken também destaca a relevância de políticas públicas eficazes para o controle do consumo de ultraprocessados, citando exemplos bem-sucedidos no Chile, México e Argentina.

No entanto, ele ressalta que o problema é global e que a atuação das empresas alimentícias atinge todos os países, comprometendo as dietas tradicionais e a saúde da população em escala mundial.

Diante das reações da indústria alimentícia ao seu livro, Van Tulleken relata convites para ser embaixador de marcas e palestrante, bem como processos jurídicos contra a editora. Ele destaca a importância de resistir às pressões e manter seu posicionamento pela saúde pública.

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