Abandono da malha ferroviária no Brasil: décadas de políticas públicas privilegiaram o transporte rodoviário em detrimento do modelo logístico consolidado.

Abandono da malha ferroviária nacional: reflexo de décadas de políticas públicas equivocadas

A situação de abandono de mais de um terço da malha ferroviária nacional reflete uma série de decisões políticas ao longo das últimas décadas que privilegiaram o transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário, que já estava consolidado no país.

Esse cenário teve início nos anos 1960, quando grandes obras viárias, como a Transamazônica e a BR-163, foram priorizadas, relegando as ferrovias a um papel secundário na logística nacional.

Com o avanço desse processo, a antiga Rede Ferroviária Federal S.A. acabou se endividando e foi privatizada nos anos 1990, com a divisão de sua rede entre as concessionárias que atualmente controlam as ferrovias no Brasil.

Os contratos de concessão dessas ferrovias foram considerados frágeis, com poucas obrigações de manutenção. Na época, não existia uma agência reguladora para fiscalizar o setor, o que só ocorreu em 2001, com a criação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

Atualmente, as ferrovias representam apenas 17% da matriz logística nacional, enquanto as rodovias suportam 66% do transporte de cargas no país.

As concessionárias alegam que a situação de abandono se deve, em parte, ao fato de que os trilhos antigos não acompanharam o crescimento econômico do país, especialmente em setores como o agronegócio e a mineração, que demandam um transporte ferroviário eficiente.

Nas últimas décadas, esses setores expandiram suas operações para regiões como Mato Grosso e Pará, aumentando a demanda por ferrovias. Empresas como a Rumo estão investindo na expansão e modernização de suas malhas para atender a essa demanda.

O Ministério dos Transportes está buscando soluções para melhor aproveitar a malha existente, seja reconstruindo trechos ou liberando áreas para outros fins. Em algumas cidades, trechos abandonados estão sendo convertidos em projetos de mobilidade urbana, como um VLT em Campina Grande.

Apesar das críticas das concessionárias, uma auditoria do TCU apontou que muitos dos trechos abandonados poderiam ser úteis para grandes centros industriais, mas a ausência de políticas públicas e infraestrutura adequada ainda dificulta o uso dessas ferrovias. Os principais produtos transportados pelas ferrovias brasileiras são minério de ferro, soja e milho.

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