Doceira Rita de Cássia da Cunha: Guardiã da Tradição dos Fartes Portugueses no Ceará

Doces lembranças de Rita de Cássia da Cunha

Desde pequena, Rita de Cássia da Cunha tinha uma paixão pela cozinha. O ambiente atraía a menina pela presença dos doces feitos por sua madrinha, que morava na mesma rua. Observando atentamente o preparo dos sequilhos, queijadas e rocamboles, Rita aprendeu o segredo da doçaria sem nunca colocar a mão na massa.

Entre todas as receitas que testemunhou, destaca-se a dos fartes. Esses delicados pastéis portugueses foram um dos primeiros doces a desembarcar no Brasil, como testemunhado na carta de Pero Vaz de Caminha. No Ceará, a receita ganhou um toque regional com o recheio de gengibre, castanha e açúcar, além da presença da farinha de mandioca.

“Fartes é doce de adulto”, decretava a doceira. Para ela, o sabor picante do gengibre não agradava às crianças, além de demandar bastante tempo e esforço na preparação.

Rita Doceira se tornou uma mestra popular, preservando a tradição dos doces portugueses em sua região. Em 2017, recebeu o título de Tesouro Vivo da Cultura Popular Tradicional do Ceará, em reconhecimento a sua contribuição.

Nascida em 4 de abril de 1933, em Sobral (CE), Rita enfrentou uma infância difícil após a morte precoce do pai. Na juventude, trabalhou em diversas atividades para ajudar a família, passando até a hospedar estudantes em sua casa para complementar a renda.

Apesar de não gostar de muita atenção midiática, a reputação de seus doces cresceu exponencialmente com reportagens em jornais e programas de TV. As encomendas se tornaram frequentes e até celebridades como Renato Aragão desfrutavam de seus quitutes.

Após uma cirurgia em 2011, Rita contou com a ajuda da sobrinha Tomázia, 73, na produção dos doces. Ela, por sua vez, relembra as memórias da tia que, apesar da fama, mantinha a simplicidade do interior, desfrutando de conversas na calçada ao entardecer e da programação televisiva.

A batalha contra a diabetes e problemas de saúde culminaram em uma internação em julho e agosto, por conta de uma pneumonia e insuficiência renal. Rita faleceu em 9 de setembro, aos 91 anos, deixando um legado para suas sobrinhas.

Seu legado continua vivo nas memórias das sobrinhas Tomázia e Ana Silvia, que mantêm vivas as lembranças de Rita e seus doces inesquecíveis.

Reportagem por: Joana Jornalista

Sair da versão mobile