A importância de diversificar: por que usar apenas o CDI como referência pode comprometer seus investimentos no longo prazo

Imagine que você está construindo uma casa. Para medir todos os cômodos — do banheiro à sala de estar — você decide usar apenas uma fita métrica pequena, daquelas usadas para pequenos projetos. Essa fita pode até ser útil para medir uma parede ou outra, mas quando for a hora de calcular o tamanho do terreno ou verificar o alinhamento da fundação, ela será completamente inadequada. Algo semelhante acontece quando investidores tentam medir todos os seus investimentos usando apenas o CDI. Apesar de ser uma ferramenta válida em alguns contextos, usar esse indexador como referência para todas as decisões pode comprometer seus resultados, especialmente no longo prazo.

O CDI, que é igual à taxa Selic, é amplamente utilizado no mercado financeiro, assim como a fita métrica na construção. No entanto, assim como cada fase de uma obra exige uma ferramenta específica, cada meta financeira exige um indexador adequado. Quando as taxas de juros estão em níveis extremos — tanto muito altas quanto muito baixas — medir todos os seus investimentos com base no CDI pode gerar decisões que, à primeira vista, parecem sensatas, mas que podem trazer consequências negativas a longo prazo.

Nos últimos anos, com as taxas de juros de curto prazo elevadas, muitos investidores têm preferido alocar seus recursos apenas em ativos referenciados ao CDI. Isso pode ser uma boa escolha para demandas de curto prazo, que requerem liquidez e segurança. Contudo, essa mesma estratégia aplicada a objetivos de longo prazo, como a aposentadoria, pode ser prejudicial. Para garantir uma aposentadoria confortável e estável, o ideal é buscar investimentos que ofereçam uma taxa de juros real — ou seja, que protejam o poder de compra e levem em consideração a inflação ao longo dos anos.

Se olharmos para o período entre 2019 e 2021, quando as taxas de juros estavam mais baixas, muitos investidores ignoraram os investimentos atrelados ao CDI, preferindo títulos indexados ao IPCA com prazos mais longos, em busca de maior retorno real. Embora essa decisão tenha sido compreensível naquela conjuntura, o cenário mudou quando a Selic começou a subir novamente. Aqueles que haviam se concentrado apenas em títulos de longo prazo se viram frustrados com os rendimentos, já que não conseguiram aproveitar a alta das taxas de juros.

Esse ciclo ilustra bem os riscos de usar uma única régua para medir todos os seus investimentos. A estratégia que parecia correta em um cenário de juros baixos pode se mostrar inadequada quando as taxas voltam a subir, e o oposto também é verdadeiro. Concentrar todo o portfólio em ativos atrelados ao CDI durante períodos de juros elevados pode levar a rendimentos reais menores no futuro, caso a Selic caia ou a inflação suba.

O segredo está no equilíbrio. Assim como na construção de uma casa você precisa de ferramentas específicas para cada parte da obra, no mundo dos investimentos é fundamental usar os indexadores certos para cada meta e horizonte de tempo. Aproveitar o momento de juros altos para adquirir ativos que ofereçam boas taxas de retorno para o longo prazo é uma decisão inteligente. Ao mesmo tempo, manter os recursos de curto prazo em produtos atrelados ao CDI permite que você se beneficie da alta das taxas de juros sem comprometer sua liquidez.

Em resumo, usar apenas o CDI para medir o desempenho de todos os seus investimentos é como tentar construir uma casa com uma fita métrica pequena e inadequada. O resultado pode ser desastroso. Para garantir um planejamento financeiro robusto, que resista às oscilações do mercado, é preciso diversificar tanto os ativos quanto os indexadores. Ao ajustar sua estratégia para atender às necessidades de curto, médio e longo prazos, você estará melhor preparado para alcançar seus objetivos financeiros com eficiência e segurança.

Agora é a hora de avaliar sua própria estratégia de investimento. Você está utilizando os instrumentos adequados para cada meta financeira? Se ainda está medindo tudo com a mesma régua, pode ser o momento de ajustar seu planejamento e diversificar suas escolhas, garantindo resultados mais sólidos no longo prazo.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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