Argentina: Javier Milei busca reverter descontentamento popular em meio à recessão e aumento da rejeição à sua gestão.

Javier Milei: O Populismo e os Desafios na Argentina

Assim como outros líderes populistas do mundo, como Donald Trump, Jair Bolsonaro, Nicolás Maduro, Gustavo Petro, Nayib Bukele e tantos mais, o argentino Javier Milei adora apostar em eventos que mais parecem ser atos de campanha, mesmo sem que exista uma eleição por diante.

É parte do manual: mantenha a galera acesa, mesmo, ou sobretudo, quando as coisas estiverem indo mal. À exceção de Bukele, que o faz mais por meio da divulgação de vídeos super-elaborados em que expõe o país como um Paraíso na terra, os demais preferem ainda o bom e velho palco de onde discursar, incentivar gritos de guerra ou evocar autores ou próceres que pouco ou nunca leram.

É por isso que Milei subiu, há alguns meses, ao Luna Park e deu uma mistura de show e propaganda de seu livro. Ali, dançou e cantou. Ou também a razão pela qual viaja para participar de encontros internacionais de jovens ultradireitistas, para “inspirar”, ou, nas palavras do analista Carlos Pagni, para ser “o rei que ele tanto diz ser”. Já fez isso na Espanha, no Brasil, em El Salvador.

Milei faria o mesmo neste fim de semana. Agora, com um objetivo claro, romper com a curva de descontentamento contra sua Presidência, que vem aumentando, principalmente entre os jovens de bairros pobres —que haviam sido a base de seu apoio e de parte importante da classe média em sua eleição. Para estes, os ajustes nas contas de luz, água, transporte, combustível e serviços em geral vêm minando seus salários, já desvalorizados no início da gestão e às vésperas de uma possível nova desvalorização.

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Enquanto isso, os números indicam que o PIB do país encolheu 1,7% no segundo trimestre de 2024, o que mantém o país em recessão. A pobreza, que já era obscena quando Milei assumiu, agora fechou o primeiro semestre de 2024 em 52,9%, ou seja, 12,8 pontos percentuais a mais do que o mesmo período no ano passado.

Obviamente, ter 50% de aprovação é uma cifra invejável para a média da região. Mas o que analistas políticos e alguns institutos de pesquisa estão analisando com atenção é o aumento da rejeição.

Segundo a pesquisa Poliarquía, a percepção negativa do governo subiu de 32% para 47%, enquanto a positiva caiu de 56% para 53%. E é por isso que algumas manifestações, por ora pontuais, começam a ganhar volume, em algumas universidades, no que diz respeito às propostas privatizantes da Aerolíneas Argentinas e de outras empresas. E, principalmente, as tarifas não subsidiadas, que não param de aumentar.

No último dia 21, quando em geral a alegria toma as pessoas e os jovens lotam os parques para celebrar o fim do inverno, um dos temas mais comuns era: “por fim, não vamos mais gastar tanto com calefação”. Antes, os assuntos eram outros: desculpa para uma passeio numa data romântica, voltar a ver a cidade sem que tenha que ser a passos acelerados.

“A ética do espetáculo sempre foi eficiente para certos líderes, tomemos Mussolini ou Fidel Castro”, diz o historiador Federico Finchelstein, argentino e professor da New School de Nova York. “O que muda são as formas, porque devem ajustar-se a seus eleitorados, daí Milei fazer mais um show de stand-up ou de rock, ou de Bolsonaro usar a estética militar. São apenas as formas que mudam, a essência é a mesma.”

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