Mulheres solteiras e viúvas são maioria entre as candidatas nas eleições municipais, indica dados do TSE.

Análise sobre mulheres candidatas nas eleições municipais

No cenário das eleições municipais deste ano, um dado interessante chama a atenção: mais da metade das mulheres candidatas não são casadas. Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 58,4% das candidatas a vereadora ou prefeita estão solteiras, divorciadas ou viúvas, enquanto entre os homens, 55,4% declaram-se casados.

Uma análise histórica revela um panorama de mudanças nesse aspecto. Em 2000, apenas 41,5% das candidatas mulheres eram casadas, um percentual menor em comparação com os 56,9% da época. Já entre os homens, houve uma queda significativa, com o índice de casamento passando de 72% em 2000 para os atuais 55,4%.

A professora Beatriz Sanches, da Universidade de São Paulo (USP), aponta que essa diferença pode ser atribuída à divisão sexual do trabalho. Para ela, o casamento muitas vezes sobrecarrega as mulheres candidatas, que precisam conciliar a vida pública na política com as responsabilidades domésticas. Esse fardo acaba sendo maior para elas, em comparação com os homens.

Além disso, Sanches ressalta que essa divisão de responsabilidades pode ser agravada por outras variáveis, como raça e classe social. Mulheres brancas e de classes mais privilegiadas tendem a ter mais facilidade para se candidatarem, enquanto as mulheres negras e de classes mais baixas enfrentam maiores obstáculos.

É interessante observar que o aumento da participação de mulheres não casadas na política coincide com o crescimento da representatividade feminina como um todo. Em 2000, cerca de 18,4% dos candidatos eram mulheres. Já para as eleições deste ano, o número dobrou, com 34% do total de candidatos sendo mulheres.

Os dados do TSE mostram que, no contexto atual, 41,5% das candidatas declaram ser casadas, enquanto 41,7% são solteiras, 11,9% são divorciadas, 3,9% são viúvas e 0,9% são separadas judicialmente. Quando analisamos por cargo, as diferenças se destacam ainda mais.

Entre as candidatas a prefeita, 56% são casadas, em contraste com as postulantes ao cargo de vereadora, onde apenas 40,9% são casadas. Já entre os homens, 69,4% dos candidatos a prefeito são casados, enquanto esse índice cai para 54,2% entre os aspirantes a vereador.

Beatriz Sanches também pontua que a diferença entre as candidaturas femininas pode estar ligada à renda. Ela destaca que fazer campanha para prefeitura é mais caro, o que favorece as mulheres casadas de classes mais privilegiadas. Já as vereadoras tendem a ser de camadas mais médias e populares, especialmente em municípios pequenos.

Outro aspecto relevante é a quantidade de candidatas viúvas, que é aproxidamente quatro vezes maior do que a porcentagem de candidatos viúvos. Sanches relaciona isso ao fato de que o fim do casamento pode abrir novas possibilidades de atuação para as mulheres e ao capital familiar que elas trazem consigo.

Para a professora, a pressão machista do casamento também afeta os homens, que às vezes se veem obrigados a manter um casamento apenas para ganhar votos. Ela destaca a importância de compreender essas nuances para promover uma maior igualdade e representatividade nos cargos políticos.

Sair da versão mobile