Indústria do salmão no Chile sob críticas: riscos ambientais e de saúde pública
O mar está calmo e o crepúsculo escurece a ilha de Quinchao, no sul do Chile, onde nasceu o oceanógrafo aposentado Tarsicio Antezana. Ao longe, vulcões cobertos de neve adquirem um tom violeta profundo, acompanhando o pôr do sol.
É uma visão serena, mas há uma coisa que Antezana sabe: não muito longe da terra, mergulhada na água, uma faixa de pequenos objetos retangulares se estende pelo mar, balançando levemente ao sabor da maré. São estruturas que, mesmo não parecendo grande coisa, sustentam uma fazenda de criação de salmão abaixo da superfície.
Fora da visão de quem está olhando o mar, abaixo da água, gaiolas feitas com rede de alta densidade estão repletas de milhares de salmões. Fazendas como essas são comuns em Los Lagos, a principal região de aquicultura do Chile.
Exportação para os Estados Unidos
O país sul-americano é o maior exportador para os Estados Unidos de salmão criado em viveiro. Mas esses peixes populares não são nativos da região. Ambientalistas e ativistas há muito tempo reclamam que as fazendas danificam os ecossistemas chilenos e ameaçam a vida selvagem nativa.
A criação de salmão em larga escala começou no Chile na década de 1970. Antezana era um jovem cientista na época e foi convidado para avaliar a viabilidade da criação do peixe. Aconselhou o governo a fazer estudos de base e ter cuidado com riscos ecológicos e para a saúde humana.
Sucesso econômico e críticas ambientais
Por mais de quatro décadas, Antezana viu a indústria crescer e se tornar uma das maiores produtoras mundiais de salmão de viveiro. No ano passado, o salmão criado em fazendas foi o segundo maior produto de exportação do Chile, gerando US$ 6,5 bilhões em receita.
A indústria de salmão do país sul-americano tem sido criticada pelo uso em grande escala de antimicrobianos. É frequentemente acusada de poluir cursos d’água e contribuir para florações incomensuráveis de algas. À medida que as áreas primárias onde se estabeleceu a aquicultura foram se deteriorando, graças à crescente demanda internacional, a criação de salmão chileno se expandiu para a natureza intocada da região mais ao sul do país, especialmente para Magalhães, na Patagônia.
Impactos na saúde pública e ambiental
O aumento da resistência aos antibióticos foi reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma grave ameaça à saúde pública global. A aquicultura, incluindo a criação de salmão, é um dos contribuintes para aumentar o problema, disse Felipe Cabello, professor de microbiologia e imunologia no New York Medical College.
Mas, em razão dos rigorosos protocolos de quarentena e testes, o salmão chileno não contém praticamente nenhum resíduo de antibiótico quando chega aos supermercados americanos: o Chile e os Estados Unidos testam a carne de salmão chilena para detectar a presença de resíduos de antibióticos.
Críticas e desafios futuros
Muitos especialistas e ativistas continuam a questionar a sustentabilidade ambiental e os riscos para a saúde pública associados à indústria do salmão no Chile. A pressão sobre o governo chileno e a indústria para reduzir os impactos negativos e melhorar as práticas de criação de salmão é constante.
Apesar dos desafios, os debates sobre os rumos da aquicultura no Chile continuam, com diferentes perspectivas e interesses em jogo.