Escândalo de doping na Alemanha Oriental
O mais dramático nesse desmascaramento do falso milagre esportivo da RDA, é que as medalhas de ouro significavam muito mais do que êxito no setor: elas eram uma peça de quebra-cabeças numa autoimagem cuidadosamente polida e cultivada.
Quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o país se dividira em dois Estados: a socialista República Democrática Alemã (RDA) no leste, e a capitalista República Federal da Alemanha (RFA) no oeste. Enquanto a RFA brilhava como potência econômica emergente, sua irmã menor lutava por reconhecimento internacional.
“A questão não eram só os metros e segundos, mas sim representar a ‘Alemanha melhor'”, explica Jutta Braun. Cada vencedor no pódio significava um triunfo do socialismo; em troca, a RDA recompensava seus campeões esportivos com dinheiro, carros e imóveis.
Na Copa do Mundo de Futebol de 1974, realizada na RFA, as duas Alemanhas até chegaram a se confrontar. Nas classificatórias, surpreendentemente, a RDA venceu por 1 a 0. A Alemanha Oriental triunfava; no Oeste, os torcedores zombavam de seus craques.
No entanto, a seleção ocidental tirou proveito da derrota: impelido pelo fiasco, o time liderado por Franz Beckenbauer passou a jogar melhor. Além disso, graças à derrota frente aos alemães-orientais, a seleção da RFA entrou para um grupo mais fácil, enfrentando a Polônia, Suécia e Iugoslávia, chegou à final e consagrou-se campeã do mundo. A RDA foi desclassificada, no grupo da Holanda, Brasil e Argentina.
Após escândalos de doping: as vitórias são válidas?