Instabilidade na fronteira: Colômbia e Venezuela enfrentam desafios em região marcada por fluxo migratório e aumento da criminalidade.




Crise na Fronteira Venezuela-Colômbia

Por João Silva – Correspondente Internacional

A tensão política e econômica na Venezuela tem impacto direto na extensa fronteira com a Colômbia, que se estende por mais de 2.300 km, sendo a região mais movimentada aquela que divide o departamento colombiano do Norte de Santander e o estado venezuelano de Táchira.

Uma das pontes mais conhecidas que ligam os dois países é a Ponte Simón Bolívar, destinada apenas a pedestres. Anteriormente, em meio aos conflitos guerrilheiros e ao narcotráfico na Colômbia, o fluxo predominante era de colombianos fugindo da violência. No entanto, com a crise na Venezuela, esse cenário se inverteu, com um aumento significativo de venezuelanos empobrecidos atravessando a pé a Ponte Simón Bolívar. Atualmente, estima-se que 2,8 milhões de venezuelanos residam na Colômbia, o país que mais recebe esses migrantes no mundo.

O taxista venezuelano Afonso Canizales relata o constante vaivém de pessoas cruzando a fronteira, seja para realizar compras ou buscar oportunidades de estudo e trabalho. Canizales, de 73 anos, auxilia mulheres mais velhas que vêm de San Antonio del Táchira, na Venezuela, para a cidade colombiana de Cúcuta em busca de mantimentos e outros itens necessários. Essas mulheres retornam no final do dia com suas sacolas cheias, enquanto outros carregam móveis e até mesmo estudantes uniformizados atravessam a fronteira para frequentar as aulas em Cúcuta.

Apesar de não viver mais o ápice da crise migratória de 2017, Cúcuta, como principal cidade fronteiriça da Colômbia, ainda recebe diariamente milhares de venezuelanos em busca de oportunidades. O comércio na região se tornou essencial nesse contexto, com colombianos e venezuelanos buscando produtos mais baratos em ambos os lados da fronteira.

A regularização do fluxo migratório foi uma medida adotada durante o mandato do ex-presidente colombiano Iván Duque (2018-2022), que facilitou a documentação dos habitantes da fronteira e implementou programas de acolhida aos venezuelanos. Essas ações foram elogiadas pelos migrantes que fugiam da crise política na Venezuela.

Apesar de alguns sinais de normalização, como a reabertura da Ponte de Tienditas, a região fronteiriça segue enfrentando desafios, especialmente com a presença de trilhas clandestinas controladas por grupos criminosos de ambos os países. Ex-guerrilheiros e membros de facções criminosas exploram essas rotas para o tráfico de drogas e contrabando de mercadorias, resultando em confrontos violentos e mortes frequentes.

A presença do grupo criminoso venezuelano Tren de Aragua em Cúcuta foi percebida de forma discreta pela equipe da Folha. Comerciantes locais relataram o controle e vigilância impostos por essas organizações, que cobram taxas dos estabelecimentos comerciais sob ameaça de represálias violentas. A situação demanda uma ação conjunta dos governos colombiano e venezuelano para evitar um agravamento da violência na região de fronteira.

O pesquisador Kenny Sanguino Cuéllar alerta para a possibilidade de um aumento nos conflitos locais entre grupos criminosos, o que requer uma abordagem coordenada entre os governos envolvidos para garantir a segurança e estabilidade da região fronteiriça.


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