Tradição japonesa: A importância do randoseru na educação e cultura do Japão







Randoseru no Japão

Randoseru: O tradicional estilo japonês de mochila

No Japão, as expectativas culturais são repetidamente incutidas nas crianças na escola e em casa, com a pressão dos colegas desempenhando um papel tão poderoso quanto qualquer autoridade ou lei. À primeira vista, pelo menos, isso pode ajudar a sociedade japonesa a funcionar sem problemas.

Os japoneses tendem a ficar em silêncio em filas, obedecer aos sinais de trânsito e limpam a sujeira que produzem em estádios durante eventos esportivos ou shows porque foram treinados desde o jardim de infância para fazê-lo.

Carregar a volumosa mochila randoseru para a escola não é “sequer uma regra imposta por alguém, mas uma regra que todos estão cumprindo juntos”, disse Shoko Fukushima, professora associada de administração educacional no Instituto de Tecnologia de Chiba.

No primeiro dia de aula —o ano letivo japonês começa em abril— bandos de alunos ansiosos do primeiro ano e seus pais chegaram para uma cerimônia na Escola Primária Kitasuna, no bairro de Koto, no leste de Tóquio.

Buscando capturar um momento icônico refletido em gerações de álbuns de fotos de família japoneses, as crianças, quase todas carregando a randoseru, alinharam-se com seus pais para posar para fotos na frente do portão da escola.

Tradicionalmente, a uniformidade era ainda mais pronunciada, com os meninos carregando randoseru pretos e as meninas vermelhos. Nos últimos anos, a crescente discussão sobre diversidade e individualidade levou os varejistas a oferecer as mochilas em uma variedade de cores e com alguns detalhes distintos como personagens de desenhos animados bordados, animais ou flores, ou forros internos feitos de tecidos diferentes.

O status do randoseru remonta ao século 19, durante a era Meiji, quando o Japão fez a transição de um reino feudal isolado para uma nação moderna navegando em um novo relacionamento com o mundo exterior. O sistema educacional ajudou a unificar uma rede de feudos independentes —com seus próprios costumes— em uma única nação com uma cultura compartilhada.

As raízes militares do randoseru estão de acordo com os métodos educacionais japoneses. Os alunos aprendem a marchar em passo com os outros, fazendo exercícios no playground e na sala de aula. O sistema escolar não apenas ajudou a construir uma identidade nacional; antes e durante a Segunda Guerra Mundial, também preparou os alunos para a mobilização militar.

Após a guerra, o país se mobilizou novamente, desta vez para reconstruir uma economia com trabalhadores obedientes. Em reconhecimento à forte solidariedade simbolizada pelo randoseru, algumas grandes empresas dariam as mochilas como presentes aos filhos dos funcionários.

Os avós frequentemente compram o randoseru como presente comemorativo. As versões de couro podem ser bastante caras, com um preço médio de cerca de 60 mil ienes (R$ 2.000).

Na Tsuchiya Kaban, um fabricante de randoseru com quase 60 anos no leste de Tóquio, as famílias marcam horários para que seus filhos experimentem modelos de cores diferentes em um showroom antes de fazer pedidos para serem atendidos na fábrica anexa. Cada bolsa é montada a partir de seis partes principais e leva cerca de um mês para ser montada.

Nos últimos anos, alguns pais e defensores das crianças reclamaram que as mochilas são muito pesadas para as mais novas. Um randoseru pode cobrir metade do corpo de um aluno típico do primeiro ano. Mesmo vazio, a mochila média pesa cerca de 1,5 quilo.

“Aqueles que não têm coração dizem que ‘as crianças de hoje são fracas; em nossos dias carregávamos aquelas mochilas pesadas’”, disse Fukushima, o professor de educação.

Alguns fabricantes desenvolveram alternativas que mantêm a forma do randoseru enquanto usam materiais mais leves como nylon. Mas essas alternativas têm tido dificuldade em ganhar aceitação.

No final do dia, Kaho Minami, 11 anos, uma aluna do sexto ano com um randoseru vermelho profundo bordado com flores que ela carregou durante toda a escola primária, disse que nunca desejou outro tipo de mochila. “Porque todo mundo usa um randoseru”, ela disse, “eu acho que é uma coisa boa.”


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