Amizade e Canalhice: O encontro inesperado que revelou o verdadeiro caráter aos olhos de uma criança e de um adulto 30 anos depois.




Artigo: Lembranças da Infância

Lembranças da Infância

Recordo vividamente da minha infância. As memórias são como curtas de super 8, projetadas na tela da minha consciência. Além disso, trago opiniões formadas desde os primeiros anos de vida que permanecem inalteradas e vez por outra vêm à tona.

Um episódio marcante foi quando, como um Muro de Berlim, o alambrado dividia o pátio da escola e o tanque de areia em dois. De um lado, as crianças de um a quatro anos. Do outro, os mais velhos de cinco a sete anos – quase adultos aos meus olhos. Durante o recreio, minha pá de plástico branca caiu do meu lado do alambrado. Um menino mais velho, chamado Lucas Amadeu, viu e, ao invés de devolvê-la, a pegou e saiu andando. Naquele momento, julguei-o como um mau caráter e essa lembrança permaneceu comigo por décadas.

Trinta anos depois, encontrei Lucas em um bar. Após uma breve conversa, ele me revelou que trabalhava no mercado financeiro lidando com termos complexos como “alavancagem” e “hedge funds”. Percebi que ele ganhava a vida pegando as pás que caíam dos mais novos e colocando-as no bolso. A experiência me fez refletir sobre a natureza das pessoas e como suas atitudes podem revelar seu caráter.

Um exemplo oposto foi a generosidade de amigos e familiares durante os últimos anos de vida do meu padrasto. Mesmo diante de despesas médicas elevadas, eles contribuíram mensalmente para ajudar na cobertura dos custos, demonstrando verdadeira solidariedade e empatia.

Essas experiências me fizeram refletir sobre como lidamos com situações cotidianas que revelam nosso caráter. Às vezes, nos deparamos com oportunidades de agir de forma ética e solidária, como ocorreu na minha infância com a pá no tanque de areia. A vida nos desafia a escolher o lado certo do alambrado, mesmo quando não estamos sob os holofotes.


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