O líder do PT na Câmara dos Deputados, Odair Cunha (MG) protocolou nesta quarta-feira (3) representação contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP) por ataques racistas contra a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Os documentos foram enviados ao corregedor-geral da Casa, o deputado Domingos Neto (PSD-CE), com o argumento de quebra de decoro parlamentar, e para a Procuradoria Geral da República (PGR), em representação criminal.
Na segunda-feira (1º), durante a 1ª reunião de mulheres parlamentares – P20, em Maceió, Alagoas, Carla Zambelli reclamou que não teve espaço de fala em razão das regras estabelecidas pela Secretaria da Mulher da Câmara. A deputada ainda se referiu ao órgão como o “da Chica da Silva”, referindo-se a Benedita da Silva, coordenadora da Secretaria.
“Eu não vou falar, porque parece que já foi montada pela Secretaria da Mulher, que é a Chica da Silva, e eu acho que não fui contemplada a falar”, disse a deputada em vídeo publicado nas redes sociais e posteriormente excluído.
Chica da Silva foi uma escrava, que conseguiu alforria ainda no século XVIII, anterior, portanto, à Lei Áurea. A figura histórica, adaptada em filmes e telenovelas, é conhecida por ter saído da escravidão e atingido a ascensão social, após ter se unido a um homem branco.
“Ao chamar a Deputada Federal Benedita da Silva de “Xica da Silva”, a referida parlamentar não tece uma fala elogiosa à nobre parlamentar Benedita, haja vista que o senso comum não traz a perspectiva elogiosa a esta personagem histórica, mas sim utiliza de ironia, deboche e escárnio com vistas a desqualificar a Coordenadora da Bancada Feminina apenas por discordar de regras para participação parlamentar no evento PW20”, argumenta Odair Cunha em sua representação.
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A atitude de Carla Zambelli foi criticada por parlamentares governistas e também da oposição. Líder do Psol na Câmara, Erika Hilton (SP) reforçou que o racismo é uma prática que ocorre todos os dias, e “nem o cargo de Deputada nos torna imunes à essa faceta”.
“Quando Carla Zambelli falou dela, não passou por sua cabeça o nome da mulher negra que está lá todos os dias, e cuja presença dignifica o Congresso literalmente desde quando a nossa constituição estava sendo escrita”, escreveu Erika.
“Eu fui, colega, na Câmara dos Deputados, da Deputada Benedita da Silva. Esse tipo de atitude, esse tipo de declaração é mais do que uma infelicidade, traduz-se em um crime. Por mais que depois se peçam desculpas e, pelo que li nas reportagens, houve o pedido de desculpa em razão de uma fala inapropriada, indevida, criminosa, não se pode permitir isso na convivência entre colegas”, disse Marcos Rogério (PL-RO), líder da Oposição no Senado, durante sessão.
Em sua defesa, Zambelli publicou, nas redes sociais, uma nota de esclarecimento. Segundo o texto, a deputada “lamenta o referido lapso, mas torna público que não houve qualquer intenção de ofensa à sua colega de Parlamento”. Ela ainda afirma que se desculpou com a deputada Benedita da Silva e que tal conversa foi “amigável”, com “compreensão da situação”.
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