Na última quinta-feira (27), os ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-diretora da empresa Anna Saicali se viram no centro de uma reviravolta judicial. Ambos foram alvos de mandado de prisão preventiva na Operação Disclosure, mas suas situações tomaram caminhos distintos. Enquanto Miguel foi solto em Madri neste sábado (29), após ser preso na sexta-feira, Anna terá seu desfecho no domingo (30) ao se entregar às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa, de onde embarcará rumo ao Brasil. Um acordo estabelecido entre as partes garantiu que Anna, ao chegar no Rio de Janeiro, prestará esclarecimentos às autoridades, porém não será mais detida. Ambos haviam sido considerados foragidos e inclusos na lista da Interpol.
A decisão de manter Anna em liberdade foi proferida pelo juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, após um pedido da defesa na sexta-feira. Os advogados argumentaram que Anna se comprometeria a voltar ao Brasil e entregaria seu passaporte, o que foi acatado. A informação foi inicialmente reportada pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
No aeroporto de Lisboa, Anna será acompanhada pelas autoridades policiais até seu embarque de volta ao Brasil, sem a necessidade de algemas. O juiz destacou que a decisão foi tomada de forma consensual, em sintonia com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
A defesa sustentou que Anna Saicali já possuía passagem marcada para Portugal antes da emissão do mandado de prisão, com um voo já agendado de São Paulo para Lisboa em 15 de junho, e retorno inicialmente previsto para 26 de junho, adiado para 5 de julho após a prisão preventiva.
Residente em Madri há mais de um ano, Miguel Gutierrez, que possui cidadania espanhola, colaborou com as autoridades prestando um extenso depoimento. Segundo seus advogados, ele aguardará agora o acesso aos autos para exercer sua defesa de forma técnica. A defesa do ex-CEO frisou que ele nega qualquer participação em fraudes e tem confiança nas autoridades brasileiras e internacionais.
De acordo com a Polícia Federal, a Operação Disclosure desvendou a maior fraude já registrada no mercado financeiro brasileiro, estimada em aproximadamente R$ 25,3 bilhões. A ação contou com a colaboração do Ministério Público Federal e mobilizou cerca de 80 agentes federais no Rio de Janeiro. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão, com determinação de sequestro de mais de meio bilhão de reais em bens e valores dos ex-diretores.
As investigações, contando com a atual administração da empresa e suporte técnico da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), revelaram fraudes contábeis em operações de risco sacado e contratos fictícios de verba de propaganda cooperada (VPC). Também foram identificados indícios de manipulação de mercado, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Segundo a Polícia Federal, a fraude alterou os resultados financeiros do grupo para simular um aumento fictício no caixa, o que artificially aumentou o valor das ações das Americanas na bolsa. Com esses dados manipulados, os executivos recebiam generosos bônus por desempenho e lucravam vendendo as ações superavaliadas no mercado financeiro.