Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek *
“Todo fundamentalista é conservador, mas nem todo conservador é fundamentalista” (Harry Emerson Fosdick)
Na última semana, o cenário político brasileiro foi agitado por uma série de eventos que causaram polêmica e incertezas. Desde a devolução da Medida Provisória do Ministério da Fazenda até o ataque especulativo sobre o dólar, o país se viu imerso em um turbilhão de acontecimentos e declarações controversas. Ex-convertido a uma economia social, Armínio Fraga ressurge das sombras para criticar o governo federal, enquanto Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, parece ter sofrido uma estranha confusão de identidade durante um evento no Palácio Bandeirantes, questionando a autonomia da instituição.
A situação se complica com um ataque direcionado aos influenciadores de esquerda, equiparando-os ao controverso “gabinete do ódio” e sua disseminação de fake news. Colunistas renomados espalham informações não verificadas sobre altos integrantes do governo, gerando ainda mais incertezas. Além disso, equívocos no leilão do arroz ressuscitam sombras de corrupção sobre o governo do PT.
Em meio a todos esses eventos, destaca-se a votação para regime de urgência do PL 1904, também conhecido como PL do Estuprador, que gerou intensos debates e controvérsias. O deputado Sóstenes Cavalcante, defensor do projeto, revelou em uma entrevista que seu principal objetivo com a lei era atingir o ex-presidente Lula, evidenciando as tensões políticas existentes.
Esses eventos contribuem para a crescente desconfiança em relação ao governo, ao mesmo tempo em que acordos são firmados em bastidores. No entanto, a postura radical de Sóstenes Cavalcante e a repercussão do PL 1904 evidenciaram as divisões e extremismos presentes na sociedade. O embate entre conservadores e fundamentalistas religiosos se intensifica, revelando diferenças ideológicas e prioridades distintas.
Apesar das tensões, a rejeição e exposição das contradições do PL 1904 demonstram que a maioria da população rejeita extremismos e busca o diálogo e o bom senso. O episódio serve como um alerta para a necessidade de se distanciar de fundamentalismos e focar na construção de uma sociedade mais inclusiva e tolerante.
Em meio a essas turbulências políticas, o Brasil é desafiado a encontrar um equilíbrio entre diferentes correntes de pensamento e a promover um ambiente de diálogo e respeito mútuo. A controvérsia em torno do PL 1904 foi um marco nessa jornada, mostrando que a voz da razão e da moderação ainda tem espaço em meio ao caos.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
* Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é mestre e doutor em Ciência da Religião (UFJF); pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-MG); pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista Capes); pastor na Igreja Batista Marapendi (Rio de Janeiro); professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção, e co-organizador de Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.