A combinação de fortes chuvas, preços baixos e expectativa de uma nova desvalorização da moeda na Argentina está resultando na venda mais lenta de soja em uma década. Este cenário alimenta um dos maiores temores do governo de Javier Milei: a falta de dólares.

Até maio, os agricultores haviam colhido apenas cerca de 60% da área plantada de soja, ficando atrás do ritmo de colheita da safra anterior afetada por uma seca histórica. Isso resultou em uma queda de 38% na entrada de dólares pelas vendas de grãos em comparação com o ano anterior, segundo o relatório de junho do Ciara-CEC.

De acordo com dados da Bolsa de Valores de Rosário, ainda restam aproximadamente 26,7 milhões de toneladas de soja para vender, somando a mercadoria já vendida mas ainda não precificada, o total chega a 35,7 milhões de toneladas.

A Argentina depende fortemente das exportações de soja, contribuindo com mais da metade do total das exportações do país. O governo conta com essas exportações para a entrada de dólares e para seguir com seu plano econômico de ajuste, buscando conter a inflação e encerrar a limitação de compra de dólares, o “cepo”.

O mercado especula sobre uma possível desvalorização da moeda liderada pelo governo de Milei. A diferença entre a cotação oficial e os dólares paralelo e financeiro já chega a 40%, indicando uma possível correção do câmbio.

Além disso, a lentidão nas vendas de soja é atribuída ao clima ruim e aos preços baixos do grão. Os agricultores estão retendo as vendas na expectativa de melhores preços no mercado internacional, temendo uma desvalorização que afetaria seus rendimentos.

Governo tem dias de alívio, após dificuldades no Congresso

Após a aprovação no Senado da Lei de Bases, o governo de Milei obteve algum alívio após um período de instabilidade. Com a aprovação da lei e a renovação de um contrato cambial com a China, o risco soberano argentino caiu e a inflação apresentou desaceleração em maio, sendo considerados pontos positivos para a gestão.

Entretanto, o governo ainda enfrenta desafios para manter a sustentabilidade das medidas econômicas adotadas. A entrada de dólares na indústria também diminuiu, refletindo em quedas na produção de diversos setores e no fechamento de postos de trabalho.

A atividade industrial enfrenta dificuldades com a baixa demanda e os altos custos, indicando um cenário desafiador para a economia argentina nos próximos meses.