Após ensaiar, sem sucesso, negar as operações, Maria Zélia foi instruída a se dirigir até uma agência bancária fora de sua região. Lá, deveria providenciar a entrega de seus cartões e aparelho celular para serem analisados pelo banco. Diante da impossibilidade de se deslocar, Maria Zélia foi convencida a entregar os cartões ao suposto funcionário enviado para buscar os objetos. Porém, acabou cedendo também o telefone antes de desconfiar do golpe.
Uma hora depois, sem nenhum retorno, Maria Zélia percebeu que fora vítima de um golpe. Ela tentou bloquear os cartões e o aplicativo bancário, mas os estelionatários conseguiram movimentar mais de R$ 180 mil em transferências, saques, compras e empréstimos consignados.
Este caso de fraude sofrida por Maria Zélia reflete uma realidade preocupante no Brasil. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), golpes bancários eletrônicos são cada vez mais comuns. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam mais de 200 mil ocorrências de estelionato eletrônico, sem contabilizar os números de seis estados.
Além disso, uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) projeta que 7,2 milhões de consumidores tiveram suas informações financeiras utilizadas de forma indevida no ano anterior à pesquisa. Esses números geram preocupação quanto à confiabilidade do sistema financeiro e à segurança dos consumidores.
Os bancos, por sua vez, destacam que têm investido em tecnologia e segurança para prevenir esses casos. Em 2022, o sistema financeiro investiu R$ 35 bilhões em tecnologia, sendo R$ 3,5 bilhões especificamente para prevenção a fraudes e segurança bancária. No entanto, segundo a juíza Marília de Ávila e Silva Sampaio, investimentos em segurança não eximem os bancos de suas responsabilidades.
A advogada pondera que os crimes afetam as instituições financeiras, mas prejudicam diretamente os correntistas, o que obriga os bancos a ressarcirem os prejuízos causados por fraudes e delitos praticados por terceiros. A atividade lucrativa dos bancos, afirma Marília Sampaio, está intrinsecamente ligada à confiança dos clientes, sendo a credibilidade a base do funcionamento do sistema financeiro.
O caso de Maria Zélia é um alerta para a gravidade das fraudes eletrônicas no sistema bancário brasileiro e para a necessidade de investimento em segurança e mecanismos de prevenção a golpes. A confiança dos consumidores nos bancos é peça fundamental para o funcionamento saudável do sistema financeiro como um todo.