Conflito no Iêmen: Houthis desafiam os Estados Unidos
“Os Houthis podem muito bem calcular que, depois de resistirem a sete anos de bombardeio aéreo saudita ao longo da guerra civil iemenita, é improvável que um ataque aéreo dos Estados Unidos a alvos iemenitas cause danos mais substanciais ou que qualquer dano a seu equipamento ou instalações não possa ser rapidamente reparado ou substituído”, disse Gerald Feierstein, ex-embaixador dos Estados Unidos no Iêmen, ao Washington Post.
Histórico de hostilidades
Em meados de novembro, quando o massacre israelense em Gaza levava pouco mais de um mês e os houthis começaram a fazer sua guerrilha marítima, o grupo apreendeu um navio ligado a Israel com a ajuda de um helicóptero e barcos pequenos. No final de dezembro, em nova tentativa de assalto contra outra embarcação comercial, o plano falhou porque as forças militares dos Estados Unidos responderam a um chamado de socorro do navio e afundaram três barcos houthis, matando dez tripulantes.
Horas após o confronto, o porta-voz militar dos houthis afirmou que a resposta inevitavelmente aconteceria. Em 9 de janeiro, os rebeldes atacaram navios de guerra dos Estados Unidos com drones e mísseis. O Comando Central dos Estados Unidos disse que os houthis arcariam com as consequências e apenas dois dias depois, Estados Unidos e Reino Unido atacaram alvos do grupo no Iêmen, deixando cinco combatentes mortos.
Segundo o site The New Arab, há indicações de que os houthis estão preparados para uma guerra direta com a grande potência ocidental, por avaliar que os navios de guerra dos Estados Unidos estão facilmente ao alcance de seus mísseis. Além disso, o grupo agora desfruta de um apoio popular sem precedentes no Iêmen. Nas últimas semanas, dezenas de milhares de pessoas engrossaram manifestações públicas organizadas pelos houthis, com muitos se mostrando propensos a seguir as diretrizes do grupo se uma guerra em larga escala eclodir.
Rashid Mohammed, morador de Hodeidah, quarta maior cidade do Iêmen, banhada pelo Mar Vermelho, disse ao portal que milhares de combatentes chegaram ao município recentemente. “Essa mobilização nunca aconteceu antes nesta cidade costeira”, afirmou o homem de 28 anos. “O apoio [dos houthis] aos palestinos em Gaza nos encheu de orgulho, e multidões de pessoas deixaram de lado os aspectos negativos dos houthis e se juntaram ao grupo. Isso ajudará a aprofundar seu domínio no Iêmen e ampliar sua influência na região”, disse.
Paz no Iêmen?
A guerra civil no Iêmen começou em 2015 e causou uma das piores tragédias humanitárias do mundo. Nos últimos dois anos, a ONU e atores regionais, incluindo Omã e Arábia Saudita, tentaram encerrar o conflito. A luta foi pausada em abril de 2022, após um cessar-fogo patrocinado pela ONU entrar em vigor.
O enviado especial da ONU para o Iêmen, Hans Grundberg, delineou um plano de paz em 7 de janeiro, baseado nos compromissos do governo iemenita e do grupo Houthi. “Para alcançar [a paz], precisaremos de um ambiente que permaneça propício para sustentar um diálogo construtivo sobre o futuro do Iêmen”, disse Grundberg.
No entanto, as tensões no Mar Vermelho podem provocar uma nova escalada de violência, segundo conclusão do repórter do The New Arab, que não assina a reportagem alegando necessidade de proteger sua integridade. O número de jornalistas mortos e feridos desde o início do massacre de Israel em Gaza é recorde.