Após a banda de metais guardar seus instrumentos, Sergio Solano, 39, e outros dois entregadores de comida levam uma bicicleta branca até uma passarela próxima à sede das ONU em Nova York.
Um colega de trabalho —ou “compañero”, como eles se autodenominam—, havia morrido menos de duas semanas antes, em setembro, em mais um acidente de bicicleta nas ruas de Manhattan. Entregar comida tem se mostrado uma ocupação letal para muitos desses entregadores.
Pedalando a qualquer hora, eles o tempo todo correm o risco de ser atropelados, sofrer acidentes ou ser vítimas de crimes.
A bicicleta tingida com tinta spray prestava homenagem a Félix Patricio Teófilo, um imigrante mexicano que, como eles, ganhava a vida entregando comida. Eles a prenderam na grade de metal perto da interseção da Rua 47 e da Primeira Avenida, onde ele morreu.
Lá fora
Com essa marcha solene sob a garoa, Solano encerrava uma noite de luto, cumprindo o que passou a ver como uma missão: chamar a atenção para indivíduos cujas vidas foram relegadas às sombras, mesmo que depois da morte deles.
“Nunca pensamos que estaríamos organizando vigílias”, diz Solano. “Esse nunca foi nosso objetivo.”
Há pouco mais de três anos, Solano e parentes que também são entregadores de comida começaram o “El Diario de Los Deliveryboys en La Gran Manzana” —algo como o jornal dos entregadores de delivery da Grande Maçã, um dos apelidos de Nova York—, uma página no Facebook com o objetivo de reunir e informar pessoas que atuam no ramo.
A página funcionaria como uma rede de apoio online, um espaço para alertar sobre roubos de bicicletas, acidentes de trânsito e encontros discriminatórios relatados por imigrantes de língua espanhola que enfrentam a agitação urbana para satisfazer os desejos de comida para viagem dos nova-iorquinos.
Logo após a página ser criada, ficou claro para Solano que o projeto contaria uma história maior, sobre os “compañeros” que morrem regularmente no trabalho. Desde que o projeto surgiu, no final de 2020, mais de 40 entregadores faleceram de acordo com a contagem mais recente de Solano.
No caso de Patricio, ele bateu a cabeça em uma calçada, sem capacete.
Entregadores de comida foram celebrados em Nova York quando a pandemia de Covid-19 levou os moradores da cidade a se refugiarem dentro de suas casas e os serviços de delivery se tornaram essenciais.
Conforme a pandemia se arrastava, os perigos do trabalho então em alta demanda se tornaram evidentes. Ativistas formaram sindicatos e pressionaram por melhores salários e proteções, um esforço que continuou até 2023. Sob pressão, a cidade estabeleceu em outubro daquele ano, um salário mínimo mais alto para os entregadores de aplicativos, começando em cerca de US$ 18 (quase R$ 90 no câmbio atual) por hora.