Senado aprova projeto que flexibiliza comércio de agrotóxicos e preocupa entidades internacionais







Projeto de lei sobre agrotóxicos preocupa entidades internacionais

O projeto de flexibilização dos agrotóxicos, que foi apelidado por movimentos de proteção ao meio ambiente como “PL do veneno”, partiu da Câmara dos Deputados, à revelia de movimentos que protestavam em frente ao Congresso Nacional. O texto original retirava a participação de órgãos vinculados aos ministérios da Saúde e Meio Ambiente no processo de análise de novos pesticidas, concentrando a autoridade apenas no Ministério da Agricultura.

Além da mudança de competências nessa análise, o projeto dava um prazo para aprovação ou rejeição das novas substâncias. Ultrapassado esse prazo, elas eram tacitamente aprovadas, circulando livremente no mercado brasileiro até a análise acontecer. Ele também estabelecia restrições severas para processos de reavaliação de agrotóxicos, além de fazer distinção entre riscos aceitáveis e inaceitáveis à saúde, bem como a substituição do termo “agrotóxico” por “defensivo agrícola”.

A votação do texto foi segurada por meses no Senado, e ficou aos cuidados de Fabiano Contarato, ele próprio um quadro ativo da Frente Parlamentar Ambientalista. “O relator se deparou com uma situação em que era impossível impedir que o projeto fosse aprovado. Então ele trabalhou para amenizar os efeitos”, ponderou Tatto. Ainda assim, o resultado final, para o deputado, foi “completamente contrário daquilo que se espera em termos de sobrevivência da própria agricultura e ecologia brasileira”.

Contarato conseguiu trazer de volta a participação dos ministérios da Saúde e Meio Ambiente para dentro da análise de novas substâncias, mas a coordenação segue sob controle da Agricultura. Para o líder ambientalista, apesar de melhor do que a proposta original, o modelo aprovado transforma as duas pastas em “mera consultoria”, alertando que os critérios adotados no Ministério da Agricultura são estabelecidos mirando a produtividade, e não necessariamente a segurança dos produtos.

Seu relatório também eliminou o termo “risco inaceitável” do texto, eliminando a brecha para a existência de riscos aceitáveis. O termo “defensivos agrícolas” também foi abolido, mantendo a terminologia “agrotóxicos”. A aprovação tácita para substâncias que superarem o prazo de observação também foi removida, e substituída por uma possibilidade, à critério dos órgãos de fiscalização, de conceder permissões provisórias com tempo limitado.

A versão final, porém, não conseguiu retirar os trechos que autorizam o Brasil a produzir agrotóxicos proibidos em seu próprio território, desde que destinados somente à exportação. Esse detalhe, de acordo com Tatto, é o que mais chama atenção da comunidade internacional. “Boa parte dos agrotóxicos produzidos no mundo é proibida em seus próprios países, que logo vão proibir a própria produção. Com isso, o projeto abre a janela para o Brasil assumir esse papel na cadeia mundial de exportação”, explicou.

Desde a votação no Senado, a bancada ambientalista se mobiliza para articular o veto ao projeto. A esperança de Nilto Tatto está nos próprios ministérios do Meio Ambiente e Saúde, que podem encaminhar pareceres ao presidente Lula com material que ajude a justificar um veto. O deputado, porém, reconhece que não será fácil sustentar tal decisão diante do Congresso Nacional, tendo em vista a força política da bancada ruralista, principal interessado na derrubada, que possui maioria absoluta nas duas Casas legislativas.


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