Conversa de almoço com adolescentes revela preocupação com a extinção em massa e a responsabilidade das gerações mais velhas




Crise Climática: Reflectindo Sobre o Futuro

A mesa do almoço estava cheia. Minha filha, meus sobrinhos, alguns amigos deles. Todos entre 11 e 15 anos. Não sei quem começou com a conversa: qual o seu maior medo? A pergunta foi passando de um para outro e trazendo respostas previsíveis como “repetir de ano”. Até que um garoto tirou seu bigode ralo detrás do copo e disse: o meu maior medo é a extinção em massa. Achei que todos ficariam surpresos, talvez alguns nem entendessem direito, mas olhares de aquiescência e cumplicidade cruzaram a mesa, mostrando que, ao contrário do que eu imaginava, essa geração sabe muito bem o que está acontecendo.

Não que eu subestime esses garotos. Não que eu não fale do assunto com eles. Às vezes conversamos sobre desastres climáticos. Às vezes são eles que me ensinam alguma coisa sobre o meio ambiente. Acompanhamos juntos as ondas de calor e seus desdobramentos tristes no show da Taylor Swift. Mas por “extinção em massa” eu não esperava.

Pior é que o garoto está certo. Não sabemos se a meta de cortar pela metade as emissões de carbono até 2030 será cumprida, nem se essa COP surtirá resultados efetivos. Mas sabemos que se batermos em 2 graus de aquecimento uma extinção em massa pode de fato ocorrer. Naquela hora, finalmente entendi por que eles quase não falam sobre esse assunto: é insuportável. Tanto que esse sentimento tem até nome, ecoansiedade, e já é tratado como um quadro clínico.

Explique para uma planta que fura o asfalto que não há vida lá fora. O corpo deles não quer saber. O corpo deles está explodindo de hormônios. Seios furando a superfície. Ereções furando a superfície. A vontade de descobrir furando a superfície. É sobre o primeiro beijo que eles querem pensar. É sobre a forma de girar a língua, não de cortar emissões. E isso é compreensível.

Já foi sacanagem termos provocado, em uma geração —a nossa—, a crise que a geração deles terá que resolver. É ainda mais sacanagem querer que resolvam sozinhos. Nós trocamos suas fraldas. Limpamos suas bocas. Lavamos seus uniformes. Penteamos os seus cabelos. Agora que eles mais precisam de nós, vamos largar as suas mãos?

Ao contrário do que alguns imaginam, a crise climática não vai ser resolvida separando o lixo e recusando sacolas plásticas —embora seja muito importante separar o lixo e recusar sacolas. A solução para essa crise está em parar de explorar petróleo e desmatar. Não daqui a pouco. Agora.

Você deve estar pensando: quem somos nós para frear essas máquinas? Nós somos bilhões. Pais, mães, pessoas que amam outras pessoas. Acho ardilosa a tentativa de jogar nas costas do cidadão a responsabilidade pelo desastre climático, quando quem mais tem que atuar são governos e corporações, mas, infelizmente, ambos estão inflados de outros interesses. Sobra para a sociedade botar pressão —no caso do Brasil, impedir a exploração de mais petróleo, como em Macaé e na Foz do Amazonas e seus arredores (será que é mesmo o caso de entrar para a Opep+, presidente?). No âmbito mundial: pedir por justiça climática, já que hoje os 1% mais ricos do planeta emitem mais carbono que os 66% mais pobres.

Voltando para o climão no nosso almoço: depois que o garoto deu aquela resposta e um silêncio sombrio desceu sobre os pratos, achei que deveria dizer alguma coisa. Adoraria falar que aquele papo de extinção em massa era bobagem, mas não podia mentir, pode ser que aconteça. Disse: nós vamos dar um jeito. E saí correndinho buscar a sobremesa.


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